Acrossemia é o nome que se dá à redução de palavras às suas sílabas iniciais ou aos seus fonemas iniciais. Assim, é acrossêmica a palavra Ifes, formada pelos fonemas iniciais das palavras “Instituição Federal de Ensino Superior”, assim como a palavra Contran, formada com as sílabas iniciais de “Conselho de Trânsito”. A acrossemia forma siglas, siglônimos e acrônimos. Qual é a diferença entre esses três conceitos?
Sigla é o nome que se dá à reunião das letras iniciais de vários vocábulos, sem articulação prosódica. Isto é: a sigla constitui mera abreviatura. Ex: PMDB, PT, IBGE, BCG, IPTU, etc. A sigla, portanto, mesmo nos derivados, como petista (de PT), por exemplo, continua sendo realizada letra por letra.
O acrônimo ou siglema (que Silveira Bueno, no seu Tratado de semântica brasileira, chama também de acrograma), constitui uma palavra da língua. Embora a acrossemia forme siglas e acrônimos, o acrônimo constitui uma palavra nova. Enquanto a sigla é sempre lida letra por letra, o acrônimo se lê como vocábulo independente, como Varig, Vasp, Ufes, sonar (palavra formada pelas iniciais da expressão inglesa sound navigation and ranging), etc.
Na ortografia, a diferença entre esses dois conceitos (sigla e acrônimo) é fundamental: a sigla é sempre grafada com letras maiúsculas, sem exceção: IPVA, IPTU, INSS, OEA, CPMF, UFRJ, etc. O acrônimo se escreve com letras minúsculas, exceto a inicial, se se tratar de nome próprio: laser (light amplification by stimulating emission of radiation), radar (radio detecting and ranging), aids (acquired immunological deficiency syndrome), Detran, Bradesco (Banco Brasileiro de Descontos), covid (nomes de doença se escrevem com todas as letras minúsculas), etc. Se o acrônimo, contudo, tiver menos de quatro letras, deverá escrever-se com todas elas em versal: LER (lesão por esforço repetido), ONU, PIB, ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), ECA (Escola de Comunicação e Artes), etc.
O Dicionário do Aurélio, 2ª edição, erra ao grafar aids com todas as letras maiúsculas (AIDS), já que é um acrônimo e não uma sigla, e não constitui nome próprio. O Dicionário dos “herdeiros” do Aurélio acerta ao grafar aids com minúsculas, mas erra não só ao grafar sida (equivalente em português de aids) com todas as letras maiúsculas (SIDA), mas também ao dizer que sida (s.v.) é uma sigla, e não um acrônimo, apesar de, nos verbetes próprios (sigla e acrônimo), ocorrer, acertadamente, a distinção entre esses dois conceitos.
Às vezes são as sílabas e não apenas as letras iniciais que formam o acrônimo. É o caso de Petrobrás (que significa “petróleo brasileiro”; estranhamente, é acrônimo oxítono, mas é grafado sem o acento agudo em desrespeito à ortografia oficial), Banestes, Detran (Departamento de Trânsito), Arena (Aliança Renovadora Nacional), etc. Quando uma sigla se escreve como se pronuncia, com os nomes das letras por extenso, diz-se que se trata de um siglônimo, ou de um siglóide, como tevê (TV), cedê (CD), elepê (LP, isto é, “long playing”), etc.
A diferença, portanto, entre sigla e acrônimo, que as gramáticas geralmente não fazem, é fundamental não apenas para a ortografia, mas também (e sobretudo) para a compreensão do fenômeno e da formação adequada da abreviatura, do siglônimo e da acrossemia. Quando muito, para corrigir uma impropriedade gráfica do Aurélio...