Desde o dia 20 de março (e até 17 de junho de 2024), estão em exibição no museu do Louvre, em Paris, três pinturas de Jan van Eyck: Virgem de Lucca, Balduino de Lannoy e A Virgem do chanceler Rolin, além dos quadros Breviário Franciscano de Maria de Sabóia, de Belbello da Pavia e São Jorge e o Dragão, de Rogier van der Weyden.
A pintura mais famosa da exposição é representada pela restauração histórica da A Virgem do chanceler Rolin. Esta obra nunca havia sido reparada desde a sua entrada no Louvre no ano de 1800. O museu decidiu dedicar a primeira das exposições de 2024 com a obra-prima do pintor flamengo a ser mantida na sala de la Chapelle desde 2014.
O chanceler Rolin ficou imortalizado pelo quadro que mandou pintar em 1430 e concluído aproximadamente em 1435 por Jan van Eyck, intitulado originalmente como A Virgem e o Menino com o chanceler Rolin. O próprio Nicolas Rolin foi retratado nessa pintura ao lado da Virgem Maria e do Menino Jesus.
O chanceler Nicolas Rolin foi o mentor e o autor do tratado de Arras, que pôs fim à Guerra dos Cem Anos (1337-1453). No dia 1º de julho de 1435, foi inaugurado na cidade de Arras o congresso de paz entre os armagnacs e os borguinhões, após uma negociação entre o rei Carlos VII e o duque da Borgonha Filipe, o Bom. De parte dos armagnacs, participaram o duque de Bourbon, o conde de Vendôme e Artur III da Bretanha, conhecido como o “condestável de Richmont”, todos os três, em representação ao rei Carlos VII. Filipe, o Bom, seu filho Carlos, o Ousado, futuro duque da Borgonha e o chanceler Nicolas Rolin, representaram os borguinhões.
Jan van Eyck era um pintor belga nascido na cidade de Maas Eyck, próspera região dos Países Baixos, que hoje se localiza no sudeste da Holanda, junto à fronteira com a Bélgica e a Alemanha, por volta de 1390. Faleceu em 9 de julho de 1441 em Bruges, seu país natal. Foi um pintor flamengo do século XV e fundou um estilo pictórico do estilo gótico tardio, influenciando o Renascimento nórdico. É considerado um dos melhores artistas e mais célebres dos flamengos primitivos pelas suas inovações na arte do retrato e da paisagem. Caracterizava-se pelo naturalismo, imperando nas suas obras meticulosas, pormenores e vivas cores, além de uma extrema precisão nas texturas, em busca por novas perspectivas.
A madeira ressequida em que concebia seus quadros era polida e dava à pintura um excepcional brilho e um ligeiro efeito de profundidade. Foi o precursor da tinta a óleo com secagem rápida. O artista costumava conceder profundidade e diversas sombras, mesmo nas zonas onde mais incidia luz. Este fato pode ser considerado como uma iniciação ao realismo. Nos seus quadros, as figuras humanas aparecem representadas como se fossem monumentos.
A restauração da pintura, que permitiu clarear as camadas de verniz oxidado que a escureciam, oferece uma redescoberta espetacular desta obra de arte. O virtuosismo de Van Eyck, sua habilidade técnica e sua inventividade pictórica parecem mais deslumbrantes do que nunca. A paisagem miniaturizada que se desenrola ao fundo é retratada com detalhes incríveis.
Esta operação inseriu-se no atual impulso do estudo das obras de Van Eyck, iniciado inicialmente pela restauração do retábulo do Cordeiro Místico em Gand. Há quase dez anos, de fato, estes diálogos internacionais e interdisciplinares têm renovado fortemente as questões dos especialistas. Por sua vez, o Louvre pretende mostrar ao público como os estudos realizados no Centro de Investigação e Restauro dos Museus da França e o próprio restauro questionam o que pensávamos saber sobre esta obra, há muito também denominada A Virgem de Autun.
Esta importante pintura da arte ocidental, hoje surpreendentemente pouco conhecida, pode parecer difícil de compreender. É por isso que a exposição foi guiada por questões, que constituem todas as etapas do olhar para a pintura: para que uso Van Eyck desenhou esta obra tão especial, intenção do chanceler Nicolas Rolin? Por que ele pintou ao fundo uma paisagem tão miniaturizada que é quase invisível? Como podemos compreender os dois pequenos personagens do jardim? Que diálogo a obra mantém tanto com a arte da iluminura quanto com os baixos-relevos funerários esculpidos? Podemos saber como os artistas do século XV entendiam esta obra? A Virgem de Autun cristaliza, em certo sentido, as tensões que percorriam a arte flamenga no primeiro terço do século XV, entre a tradição medieval e as experiências revolucionárias.
A exploração de A Virgem do Chanceler Rolin será enriquecida pela sua comparação com outras obras de Van Eyck, mas também de Roger van der Weyden, Belbello da Pavia, Robert Campin e dos grandes iluminadores da época. Cerca de sessenta painéis pintados, manuscritos, desenhos, baixos-relevos esculpidos e objetos de ourivesaria foram reunidos excepcionalmente, graças ao apoio de numerosos museus e instituições na França e no exterior, como o Museu Städel de Frankfurt (que empresta a Virgem de Lucca), a Gemäldegalerie em Berlim, a Biblioteca Real em Bruxelas, a Biblioteca e Museu Morgan em Nova Iorque e o Museu de Belas Artes na Filadélfia.
Segundo Laurence de Cars, autor do prefácio do álbum da exposição “Rever Van Eyck novamente - Reencontro com uma obra-prima - A Virgem do Chanceler Rolin”, apresentado em Paris, no Museu do Louvre, de 20 de março a 17 de junho de 2024, esta mostra representa uma visão única da obra de um dos pintores mais famosos do século XV por renovar a nossa visão de uma das pinturas mais admiradas do Museu do Louvre.
No seu prefácio, De Cars cita também o comentário da curadora do Departamento de Pintura do Museu do Louvre Sophie Caron:
[...] Revisitar a Virgem do Chanceler Rolin de Jan van Eyck, ou descobri-la em todos os seus aspectos, é a promessa, simples e essencial, desta exposição, que inaugura um novo formato no Louvre. Ao convidar os visitantes a observar, de perto e em detalhe, uma grande obra-prima das coleções do museu, oferece uma melhor compreensão do que a torna rica e única [...].
Sophie Caron também afirma no prefácio do ilustrado álbum da exposição:
[...] cada restauração é única e traz consigo suas redescobertas e surpresas, aproximando-se o máximo possível do trabalho dos artistas. Com base nos estudos realizados nesta ocasião, esta obra e a exposição que a acompanha pretendem esclarecer os muitos mistérios que a pintura esconde. Estaria Rolin reservando-o para uso devocional privado ou planejava fazer dele um epitáfio pintado, ancorando sua memória para a posteridade nas mentes dos visitantes da igreja
Notre-Dame-du-Châtel em Autun? Como compreender os abundantes detalhes da paisagem ao fundo, que convidam o espectador a caminhar por ali?
Para concluir, não posso deixar de apresentar uma mensagem recebida ano passado de meu amigo Manoel Jaime Xavier Filho, membro titular da Academia Paraibana de Medicina (APMED): “Este seu livro A saga do chanceler Rolin e seus descendentes, por sua grande importância específica, precisa ser divulgado maciçamente na Paraíba, especificamente em Cajazeiras, PB, terra do Padre Inácio de Souza Rolim, o mais famoso educador do Estado e filho dos fundadores da cidade. A História das origens de Cajazeiras é muito singular. É muito difícil existir no Brasil, um município com essa História”.