Porque sempre haverá futuro

Às vezes acho que não vou mais conseguir escrever algo que, ao mesmo tempo, faça sentido, e tenha beleza.

As palavras viraram "funcionais", e perdi o jeito de juntá-las, à toa e belas, singelas e plurais, com direito a desafiar a gramática e fazer-las grama crescente, como os pêlos que cobrem o nosso corpo, mas que também, por nada, saltam dele.

Celyn Kang

Não me sinto mais dono de uma lógica que caiba nelas, mesmo sem ter perdido a ternura. É que as palavras precisam de amparo para se juntarem e dizerem, umas com as outras, as coisas boas e ruins, que guardamos em nossos corações...

As minhas sentem uma falta imensa de mim mesmo.

Acho que é porque perdi um dos meus sentidos, e ler o mundo, para mim, agora, prescinde do que falta.

O ar é uma página em branco, rodopio eu em volta, e sei que é hora de voltar a escrever. Os primeiros traços são difíceis de fazer e indecifráveis para quem lê, mas é novo mergulho.

A lágrima evapora, mas o coração é arquivo úmido, cheio de registros. Uns viçosos, outros secos, como folhagens de jardins.

Peak

O futuro é a mais bela das ilusões, porque é por causa dele que construímos e desfazemos o presente e o damos de presente ao passado, acreditando que vale a pena, por tudo que virá.

Como poderia um Historiador não amar o passado e não acreditar no futuro?

Só se esse historiador, de repente, percebesse que a finitude é seu material de trabalho, e ela estava no ontem, está no hoje e estará para sempre... Porque também, sempre, haverá futuro.

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