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Palavras que curam - Expressão emocional e evolução da doença

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Temos sido partidários rígidos do cartesianismo na medicina moderna. Tratamos a mente como se esta somente reagisse às doenças do organismo, sem apresentar qualquer ligação com essas doenças. Embora a ciência médica tenha produtivamente dado enfoque à fisiopatologia das doenças, como a biologia tumoral, a doença arterial coronariana e a imunologia, ela o fez às custas do estudo das reações psicofisiológicas do organismo a esses processos patogênicos. Essas reações são mediadas por mecanismos cerebrais e corporais, incluindo os sistemas endócrino, neuroimune e nervoso autônomo.

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Michael Heise
Embora uma grande proporção da variância relativa à evolução de qualquer doença seja atribuída à fisiopatologia local específica daquela doença, parte dessa variabilidade também pode ser explicada pelos fatores relacionados à resistência do hospedeiro, entre eles a maneira com a qual o organismo responde ao estresse da doença. Por exemplo, em uma série de experimentos clássicos em animais, Riley mostrou que a aglomeração acelerava a velocidade de crescimento tumoral e a mortalidade.

Em uma recente revisão oficial da literatura sobre o estresse humano, McEwen documentou os efeitos adversos dos fatores estressantes cumulativos na saúde e a incapacidade do organismo de adaptar a resposta ao estresse a esses fatores. A ativação do eixo hipotalâmico hipófise supra renal (HHSR) é uma resposta adaptativa ao estresse agudo mas, com o tempo, em resposta ao estresse cumulativo, este “sistema de alarme” pode sofrer degradação. Por isso, fica parcialmente “ligado” o tempo todo, levando a consequências fisiológicas adversas, entre elas alterações do metabolismo da glicose, lesão do hipocampo e depressão.

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Bianca Castillo
Mostrou-se que as alterações da função hipotalâmica, incluindo a hipersensibilidade dos receptores de glicocorticoides, também estão associadas ao distúrbio de estresse pós-traumático. Assim, os eventos emocionais adversos, que variam de fatores estressantes traumáticos a pequenos eventos cumulativos, podem desregular o eixo hipotalâmico hipófise supra renal(HHSR). Os glicocorticoides são potencialmente imunossupressores, de modo que, entre os efeitos do estresse agudo e crônico e da hipercortisolemia pode estar também a imunossupressão funcional, como foi mostrado extensivamente em animais e sobre a qual existe um número cada vez maior de evidências em seres humanos.

Por outro lado, o ambiente social pode ter um efeito atenuador no estresse. O mesmo fator estressante que, quando fornecido a um animal sozinho aumenta os níveis plasmáticos de cortisol em 50%, não causa qualquer aumento quando o animal está cercado de companheiros de família. A adaptação social está associada a muito menos danos ao sistema nervoso autônomo do que o isolamento social. Realmente, a conexão social possui profundas consequências para a saúde. Estar bem integrado socialmente reduz em duas vezes a mortalidade ajustada, semelhante ao que ocorre quando as pessoas possuem níveis de colesterol alto versus baixo ou ser um não fumante.

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Unsp
Ademais, a natureza da posição de determinada pessoa dentro da hierarquia social possui consequências para a saúde, incluindo status relativamente maior dentro da mesma classe social. As pessoas são estatisticamente mais propensas a morrer em situações como aniversário recheado de emoções e de feriados festivos importantes.

Portanto, a presença de eventos emocionais adversos, como situações de estresse traumáticos, parece possuir potencial negativo para a saúde, enquanto as boas relações sociais parecem estar associadas a desfechos positivos de saúde. Os resultados de um recente ensaio randomizado de pacientes que, após apresentarem infarto do miocárdio,
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Unsp
participaram de um programa que incluiu terapia de grupo, técnicas de controle do estresse e dieta vegetariana, mostraram reversão em longo prazo da oclusão coronariana. Do mesmo modo, três de seis ensaios randomizados publicados forneceram provas de que o suporte psicossocial está associado a maior sobrevida nos pacientes com câncer de mama, melanoma maligno e linfoma. Os pacientes com psoríase, expostos a fitas de treinamento de controle da mente, durante o tratamento mostraram cura mais rápida das lesões do que os não expostos. Um dos componentes das intervenções eficazes é lidar diretamente com o sofrimento emocional associado ao medo da progressão da doença.

Deixamos transparecer para o epílogo dessas linhas, as evidências de que os portadores de doenças cardiovasculares são mais sensíveis, e sofrem muito mais com os impactos do estresse e das emoções dentro de um contexto universal fisiopatológico.

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