Uma das hipóteses sobre a origem dos indígenas brasileiros, descrita pelo Instituto Socioambiental (ISA), é que eles descendem dos povos asiáticos e atravessaram o estreito de Bering há 62 mil anos. Estudos arqueológicos recentes mostraram que a chegada dos primeiros habitantes ao Brasil (na Bahia e Piauí) ocorreu entre 20 e 40 mil anos.
Os indígenas se estabeleceram nas terras que ofereciam mais fertilidade e passaram a viver em regime de comunidade. Prevalecia, portanto, a produção comunitária. Os diferentes povos tinham liberdade para seguir seus próprios costumes, a começar pela língua, com vários troncos linguísticos, como o Tupi ou Macro-Tupi, Macro-Jê e Aruak.
Mas, no ano de 1500, os portugueses desembarcaram na América para tomar posse dessas terras. Desde o início do processo de colonização houve um “desencontro de culturas”, que correspondeu a um extermínio e submissão por parte dos indígenas — tanto por meio dos conflitos com os portugueses, quanto pelas doenças trazidas por estes, a exemplo da gripe, da sífilis e da tuberculose.
Depois que se tornaram escravos, passaram a enfrentar diversas lutas pela sobrevivência. Muitos libertaram seu povo da escravidão e ativistas corajosos surgiram em diversos momentos. Um dos mais importantes da atualidade é Ailton Alves Lacerda Krenak, ambientalista, filósofo e escritor.
Krenak tornou-se o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, assumindo a de número 5, que pertenceu a José Murilo de Carvalho, falecido em agosto de 2023.
Nos últimos anos, o escritor ganhou notoriedade após a publicação da quadrilogia formada pelos livros Futuro ancestral, A vida não é útil, Ideias para adiar o fim do mundo e O amanhã não está à venda. É considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro, com reconhecimento internacional.
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, Krenak é um poeta com “visão de mundo muito apropriada para este momento, de muita preocupação com o meio ambiente, em que os povos originários lutam por seus direitos. Merval citou o livro Futuro Ancestral, de Krenak, que trata da preservação dos rios para conservar o futuro:
“Os rios já estavam aqui antes de a gente chegar, e esta visão da natureza, do homem junto dela, é que a gente está reforçando com esse grande escritor e intelectual indígena”.
Tudo isso está embutido na vitória de Krenak na Academia, que trabalha com a cultura indígena e com a valorização da oralidade.