Nesta primavera aprendi um novo jeito de viver: cultivando a poesia silenciosa do momento presente. No pequeno jardim japonês no templo budista de San Jose tenho a nobre tarefa de retirar ervas daninhas. Deram-me essa honra. Ora, direis, ervas daninhas! Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, que elas também têm um papel no vasto mundo.
Tudo está certo no jardim. Cada planta, pedra e flor tem seu lugar e seu peso, sua invencível beleza e seu desafio existencial. Das centenárias árvores às miúdas flores rosadas e às ervas daninhas, tudo cumpre o seu dever.
O jardim, com sua beleza austera, me convida a perceber humildes detalhes quase ocultos à vista. Uma gota de água pendente na ponta de um galho, a luz da tarde tornando douradas as folhas, uma brisa repentina animando os arbustos, o voo das pequenas borboletas verde-limão e dos passarinhos. Cada movimento ressoa em mim com uma familiaridade profunda e inexplicável. É meditação.
Piso suavemente sobre o cascalho. Aprendo lições. Nem sempre o caminho é macio. Anda-se sobre terrenos incertos, tropeça-se.
Meus olhos pousam em um bonsai. Contemplo seus pequenos e resilientes galhos enquanto recito o monge e venerável poeta do haikai, Matsuo Basho: “Não procure seguir os passos dos sábios; procure o que eles buscavam.” Um bonsai não imita a forma; ele busca a essência da árvore. O que os antigos jardineiros zen buscavam? Harmonia? Talvez a tranquila alegria de ver o universo inteiro em uma única flor?
Ao cuidar do jardim, cultivo resiliência e colho força. Aprendo que a felicidade não é uma conquista grandiosa, mas uma série de pequenas vitórias — uma pedra bem colocada, uma planta próspera, um pezinho de bordo japonês lutando para crescer no meio dos seixos. A elegância minimalista do jardim abraça as minhas indagações filosóficas. Ele me sussurra a multifacetada beleza da existência, e me ensina que o contentamento não está no clamor do espetacular, mas na graça de viver de forma simples.
Ao cuidar das plantas, penso em meus filhos distantes. Imagino-os percorrendo os caminhos que limpei, encontrando sua paz no colo da mãe-natureza. Eu, meus meninos e as plantas não somos limitados aos nossos corpos e caules. Somos parte de algo maior, mais belo e grandioso, que nos une e asserena. Sempre penso nos filhos ao passar pela ponte japonesa. Ela se estende sobre um lago que já secou. Houve um vazamento e optou-se por pintar de cal as pedras, simulando pequena cachoeira. É um belo conceito japonês o de ver a água apenas na imaginação. Lembra-me novamente de Basho: “O sino do templo para, mas o som continua saindo das flores”. No jardim escuto a voz dos meus filhos, ecos sutis da beleza que perdura. Eternidade em mim.
Preparo-me no jardim para as mudanças das estações. Virá o outono e as folhas se tornarão amarelas até caírem. Chegará o inverno e o frio fará se recolherem as cores. Aprendo a arte de ser transitório, de saber partir. Renascerei na primavera, como as flores das cerejeiras.
Ah, pequenino pedaço da grande Terra, eu te reverencio. Em ti encontro uma felicidade feita de antônimos – profunda e simples, atemporal e fugaz. Neste espaço sagrado, sou jardineira e jardim, uma buscadora da beleza, uma estudante da folha e da luz. E sou feliz.
Texto originalmente publicado em soniazaghetto.com