Tinha uns cinco anos - 1946, suponho - quando me veio a otite – muita dor nos ouvidos inchados - e o médico da Estrada de Ferro Soro...

Nada de sol e chuva para o moleque!

relacao pai filho reminiscencias solha
Tinha uns cinco anos - 1946, suponho - quando me veio a otite – muita dor nos ouvidos inchados - e o médico da Estrada de Ferro Sorocabana - em que meu pai trabalhava - disse que eu teria de consultar um especialista na capital, pelo que sobrou para meu pai, que teve de faltar ao trabalho e de me levar a São Paulo.

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Sorocaba (SP, 1946) Museu Histórico Sorocabano
Como seu Fortunato não me dava a mão nem no meio daquele mundo de gente nas calçadas paulistanas, tive de correr atrás das largas passadas dele, e isso foi assim até que não o vi à minha volta e parei. Deduzi que ele dobrara alguma esquina e que, ao perceber que estava só, me procuraria ... e foi o que aconteceu. Bem. O médico lhe disse: “Vamos experimentar nele um remédio novo: penicilina. Se não der certo, o moleque vai ter de ir pra faca.” Leio agora, no Google:

A benzilpenicilina, ou penicilina G, foi o primeiro antibiótico amplamente utilizado na medicina. A sua descoberta foi atribuída ao médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming, em 1928. (...) Não despertou inicialmente maior interesse e não houve a preocupação em utilizá-la para fins terapêuticos em casos de infecção humana , ... até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939. Em 1940, Sir Howard Florey e Ernst Chain, de Oxford, retomaram as pesquisas de Fleming e conseguiram produzir penicilina com fins terapêuticos em escala industrial, inaugurando uma nova era para a medicina - a dos antibióticos. Os três ganharam o Nobel de Medicina ou Fisiologia de 45.
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Alexander Flemming (1943) TR 1468
Assim, não há mal que não traga um bem, como dizia minha mãe: o desgraçado Hitler, além de bolar o fusca – meu carro durante o final dos anos 60, início dos 70., – causou, com a guerra, urgências na medicina... e me livrou "da faca".

Mas… voltando a meu pai: o médico paulistano, passada a receita, recomendou:

Nada de sol e chuva para o moleque!

Ao sairmos da estação da Estrada de Ferro, em Sorocaba, vimos o pé d´água. Seu Fortunato Solha não contou conversa: ergueu a gola do paletó, puxou a frente da aba do chapéu Ramenzoni mais para os olhos e se mandou pra chuva, eu correndo atrás..

Excerto do livro "Autob/i/ografia", disponível impresso na Arribaçã e em formato Kindle na Amazon

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  1. Anônimo4/6/24 07:00

    Assim, parece, era a maioria dos pais de antigamente. Não maus, mas durões. E querendo fortalecer os filhos homens para a dureza da vida. Parabéns, Solha. Francisco Gil Messias.

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  2. Bonitas lembranças. tenho as minhas do sítio me criei.

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