Eis que chove novamente por todos os cantos e a água sempre refresca a memória quando o junino mês se estende... Já em seus meados dias enfeitados de tantas festas se reveste de tiras de papel e pano, bandeirolas coloridas por terreiros e postes, contraste em dias de céu nublado. Junino de alegrias, de tempos sorrisos, múltiplos encantos com sabores de receitas do milho de vivo verde e gosto a mais no sentimento de enamorados que passeiam na garupa e carrocerias pelas estradas, campinas e fantasias.
Segue a festa, onde estralam os fogos em diversos artifícios e se esquenta a madeira que queima em fogo forte no fogão de barra ou que se amontoa para virar fogueira. A tradição que se apaga ao cair a madrugada em brasas e cinzas e agora se desfaz quando ficam no chão restos pelo frio de muitas esquivas.
Juninos tempos que se renovam, no trio musical de clássicos em notas repetidas como um arrastar de chinelos e um som lamentoso e alegre ao mesmo tempo. No peito, o coração recorda a terna cena de objetos que dialogam com presente e passado, mundo de sentimentos misturados.
Os junhos são meses permanentes, no registro da certidão do vivente, onde anualmente toca a alma, aninha a mente e muda a idade. Se o frio desce pelas paragens, há que se beber com o que se esquente, e se dançar embalado, pelos baiões e xotes. Há que se pensar no balão pendurado na porta da velha casa de desenho sem rebuscamentos, de paredes testemunhas das vidas.
Na chegada da noite certa e festejo maior, nas luzes artífices da tríade de santos, as promessas se repetem, as esperanças se reapresentam, religiosidade e crendices. Se Antônio é peça casada às crenças, João é dos três o mais festejado, enquanto Pedro controla as águas para pescar almas de humanos.
E segue junho de muitas jornadas, rimas e palavras. A cada cordel misterioso, em todo recanto das feiras livres, homens escravizados dos próprios pesos reconhecem a cor e o sorriso dos dias juninos e gritam num intervalo à soltura. É certo que se retire a canga, se abra a janela, escolha-se as espigas de milho e as roupas embelezantes, se enfeite com chapéus de palha e novo vestido, pois a noite que se aproxima e é tempo de festejar a colheita, a chuva, as luzes e as cores.
E vai o mês junino em galope acelerado, ponteado na viola e na vida, ritmado na sanfona, na memória e na sina do nordestino em saudosa revistada. Se veste de junino o ano, e segue...