Ela é conhecida como figueira-do-faraó , uma espécie de figueira de raízes profundas e ramos fortes que produz figos comestíveis, comum...

Figueira dos faraós dos jardins do antigo Egipto

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Ela é conhecida como figueira-do-faraó, uma espécie de figueira de raízes profundas e ramos fortes que produz figos comestíveis, comum há muitos milénios na Península Arábica e na Palestina, sendo igualmente cultivada em certas áreas de África, nomeadamente no sul do Sahel e encontrada ainda na Península Ibérica, principalmente nos bosques de faias das montanhas da Galiza, da Cordilheira Cantábrica e nos Pirenéus ocidentais. Não tolera grandes períodos de secura. Sua madeira é atualmente utilizada em mobiliário e soalhos, carpintaria de limpos, torneados e utensílios de cozinha. O sicómoro, considerado sagrado no antigo Egipto,
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Ísis (Ast ou Aset): uma das principais divindades do Antigo Egipto. ▪ Fonte: Wikimedia
identificado como Nehet, tida como a árvore da vida, associada a Ísis/Ast (esposa de Osíris/Asar), é muito elogiada pela sua sombra espessa, pelo seu fruto, o figo, pela madeira utilizada para a produção de móveis e, provavelmente devido à sua durabilidade e à ligação com a deusa do amor e da felicidade, Hute-Hor, empregue para construir sarcófagos.

Esta árvore é por diversas vezes citada na Bíblia, tendo o seu nome vulgar na maioria das línguas europeias derivado do hebraico “shikmah” através do grego “sukomorea”.

Curiosamente, devido à sua madeira resistente, os egípcios associaram-na à morte e à ressurreição, razão pela qual os sicómoros eram plantados ao lado de túmulos e, como referido, sempre que possível, os caixões eram fabricados a partir do seu lenho. Era a árvore celestial quintessencial associada à proteção e à deusa Hathor, a Iten, Itemu, Khepri, Montu e Rá, todos deuses do sol.

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Sarcófago de Ken-Hor, 26ª Dinastia, 600 a.C., Neues Museum, Berlim
Nas descrições técnicas da madeira da figueira-do-faraó afere-se como sendo de lateral branca e o cerne castanho avermelhado. Sua casca é cinzenta e com fissuras. Quando retirada do tronco é alaranjada, com nuances amarelas em mudanças de épocas do ano.

O falecido seria colocado numa espécie de cápsula microcósmica consistindo na tampa (o céu, Nut) e na caixa (a terra, Gueb). Os egípcios daquela época começaram também a fazer amuletos a partir da árvore sicómoro,
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Estela funerária da tumba de Thutirtis (350–300 a.C.), encontrada em Tebas, Egipto, durante excavações em 1912–13. ▪ Fonte: Met Museum, NY.
acreditando que ela tinha poderes mágicos e que nenhuma fibra melhor do que a do sicómoro poderia ser usada para fazer certas cordas em que os amuletos estavam dependurados, mais tarde ornamentando a própria múmia.

Pequenas estelas funerárias policromadas foram feitas a partir da madeira de sicómoro na região de Tebana, no terceiro período intermediário. Cada archote era decorado com motivos solares e geralmente apresentava os deuses solares Ra e Itemu, ou Atum.

A religião estava muito presente na vida quotidiana dos antigos egípcios, desde os estratos mais humildes até aos mais altos escalões. Supunha-se que os galhos no topo destas árvores seriam os braços das deusas que constituíam o panteão das divindades que cobriam o céu e das quais pendiam as estrelas, cada uma ocupando um lugar específico na “maat”, ou ordem divina, com funções específicas para a manutenção da harmonia geral. Com a capacidade de influenciar os acontecimentos naturais e a vida dos seres humanos, elas guiavam e protegiam a vida dos crentes durante a sua existência terrena.

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Figueira-dos-faraós (sicómoro, Ficus sycomorus) ▪ Fonte: Wikimedia.

A figueira-dos-faraós é ainda mencionada nas Escrituras Hebraicas (19:4 - Episódio de Zaqueu). É uma árvore de grande porte, atingindo 10 a 15 metros de altura, centenária e com folhagem semelhante à amoreira, conservando-se verde o ano inteiro. A principal característica é a sua folhagem densa e ampla e que proporciona uma boa sombra.

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Ilustração de um sicámoro no Egipto, conhecido como a A Árvore da Virgem Maria. ▪ Fonte: Wikimedia
A madeira do sicómoro e as técnicas de carpintaria foram exportadas do Egipto para toda a ampla região do mediterrâneo. Tornou-se elemento da cultura e civilização árabe na Europa, onde a sua utilização foi expandida nas técnicas de fabrico náutico e na construção de moinhos na península ibérica, durante o período do Al-Andalus.
SOBRE O AUTOR
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António José Rodrigues é autor do livro "Um Certo Oriente", que reúne crônicas sobre suas experiências com a cultura do Norte de África, Oriente Médio, Golfo Pérsico e Ásia. É ensaísta, orientalista e, semanalmente, aos domingos, apresenta o programa com o mesmo nome de seu livro, transmitido pela Telefonia da Amadora, das 21h às 22h, horário (de verão) de Portugal continental, que corresponde à faixa das 17h às 18h, no horário de Brasília.

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