Verdes Versos I
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.
Vegetariano
O esquecimento jamais devolve seus reféns. FABRÍCIO CARPINEJAR Somos formigas demais para o verde que resta. A escada de Tistu* já não existe mais, perdeu-se no fogo verde. Ele, felizmente, está salvo, é um anjo... Legou-nos a metáfora de seu toque, mas nessa fila de ir e vir só a pele interpreta e julga o que o olhar não entende. Somos deuses demais para o verde que resta. Pode chorar ingazeira, pois não se volta do esquecimento. O tropel segue polvilhando cinzas sobre o cobre do entardecer, e a consciência não segue os passos de seus atos. Afinal, criamos Deus à nossa imagem, temos a chave da vida, Somos dementes demais para o verde que resta.
O esquecimento jamais devolve seus reféns. FABRÍCIO CARPINEJAR Somos formigas demais para o verde que resta. A escada de Tistu* já não existe mais, perdeu-se no fogo verde. Ele, felizmente, está salvo, é um anjo... Legou-nos a metáfora de seu toque, mas nessa fila de ir e vir só a pele interpreta e julga o que o olhar não entende. Somos deuses demais para o verde que resta. Pode chorar ingazeira, pois não se volta do esquecimento. O tropel segue polvilhando cinzas sobre o cobre do entardecer, e a consciência não segue os passos de seus atos. Afinal, criamos Deus à nossa imagem, temos a chave da vida, Somos dementes demais para o verde que resta.
Reflexão
Não interrompa o cotidiano das serpentes, elas não buscam nos homens o seu veneno.
Não interrompa o cotidiano das serpentes, elas não buscam nos homens o seu veneno.
A realidade de cada um
Desconheço a ordenação dos anjos, mas sei das cores nas fachadas das casas. Na foto antiga, as casas já receberam O insofismável tom trazido pela areia do tempo. Naqueles olhos ausentes, que cruzaram desapercebidos a falsa eternização do momento, surpreendo o olhar humano. Desconheço a verdade dos santos, mas tenho aprendido sobre a mutilação do desejo.
Desconheço a ordenação dos anjos, mas sei das cores nas fachadas das casas. Na foto antiga, as casas já receberam O insofismável tom trazido pela areia do tempo. Naqueles olhos ausentes, que cruzaram desapercebidos a falsa eternização do momento, surpreendo o olhar humano. Desconheço a verdade dos santos, mas tenho aprendido sobre a mutilação do desejo.
Ofertório
Certas bocas não vestem bem as palavras.
Certas bocas não vestem bem as palavras.
Hóstia verde
Vó Bela! O homem é assim: cultiva a ausência do verde, e, quando este finalmente falta, vende o que resta aos idólatras. Benditos os iconoclastas derrubadores do ídolo verde! Vó Bela! Será que chegará o dia em que tomaremos em nossas bocas uma folha verde como hóstia?
Vó Bela! O homem é assim: cultiva a ausência do verde, e, quando este finalmente falta, vende o que resta aos idólatras. Benditos os iconoclastas derrubadores do ídolo verde! Vó Bela! Será que chegará o dia em que tomaremos em nossas bocas uma folha verde como hóstia?
Beijo
Quero comer a tua boca, para misturar nossas palavras. Quem sabe assim, com as frases embaralhadas, voltemos a criar caminhos.
Quero comer a tua boca, para misturar nossas palavras. Quem sabe assim, com as frases embaralhadas, voltemos a criar caminhos.
Duo
Sou do tipo de poeta que não tem cisma de beijar o diabo na boca. Sou poeta; aprendi cedo a mordiscar os lábios de Deus.
Sou do tipo de poeta que não tem cisma de beijar o diabo na boca. Sou poeta; aprendi cedo a mordiscar os lábios de Deus.
Decreto
(para ser lido tomando água de coco à beira-mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignificâncias. Não é permitida a inspirabilidade do óbvio. É mandatório o afogamento das circunstâncias. O statu quo deverá ser limpo com papel higiênico. Será suprimido do vocabulário o beijo sem língua. No cardápio das quartas-feiras o prato principal será o ócio. Cada bocejo deverá ser celebrado como profecia. Ao homem, que não lhe faltem ovos fritos com torresmo, chicletes e água fresca. Que todos os reflexos sejam queimados nas piras da reflexão. Para cada ser humano, um momento lento de aurora.
(para ser lido tomando água de coco à beira-mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignificâncias. Não é permitida a inspirabilidade do óbvio. É mandatório o afogamento das circunstâncias. O statu quo deverá ser limpo com papel higiênico. Será suprimido do vocabulário o beijo sem língua. No cardápio das quartas-feiras o prato principal será o ócio. Cada bocejo deverá ser celebrado como profecia. Ao homem, que não lhe faltem ovos fritos com torresmo, chicletes e água fresca. Que todos os reflexos sejam queimados nas piras da reflexão. Para cada ser humano, um momento lento de aurora.