O busto do presidente Camilo de Holanda, no final das Trincheiras, foi arrancado do pedestal. Não soube pelo rádio, não li no jornal e menos ainda nas redes sociais. Faz isto uns cinco anos. Notei de relance ao passar pelos restos mortais de um dos postais que anunciavam a quem viesse do sul “a cidade mais vegetal do que urbana” assim estampada pelo paisagista mais fiel das nossas letras. Desrespeitei a norma e estacionei na calçada oposta para verificar de perto, à luz dos meus olhos e ao roçar dos meus dedos, a impotência das instituições do patrimônio cultural e histórico para defender-se e defendê-lo do desajuste extremado entre o quinhão que tem por que zelar e a massa bruta (porque nunca foi tratada) que não sabe o que vai comer no dia seguinte.
Acervo Petrônio Souto
Ao ver o desmonte e achando-me sozinho e tão desamparado quanto as sobras do pedestal e as ruinas dos antigos palacetes, acudiu-me telefonar para Martinho Moreira Franco, que não era prefeito, tampouco secretário ou agente cultural, mas o parceiro seguro, sensível e pronto nesse gênero de cuidados.
- Camilo arrancou-se do pedestal – falei.
Balautrada da Rua das Trincheiras (capital paraibana) Acervo Petrônio Souto
Já falei nisto umas dez vezes. O recanto escolhido para homenagear o presidente que fez a diferença da cidade de linhas coloniais para a moderna não podia ser mais apropriado e justo. Foi ali onde a aristocracia do açúcar e do algodão, com os ganhos da Primeira Grande Guerra, assentou sua morada mais representativa, mais invejada, todos de mirante para o grande vale que daria mais que “ um campo de futebol de arquibancadas feitas pela natureza”, na visão deslumbrada de José Américo.
Busto de Camilo de Holanda (R. das Trincheiras - capital paraibana)
Acervo Petrônio Souto
Acervo Petrônio Souto
A homenagem do busto somente veio ocorrer na gestão do prefeito Oswaldo Pessoa, com a presença solidária do governador Oswaldo Trigueiro, apesar de adversários, trinta anos depois do governo de Camilo.
* publicado originalmente no jornal A União