Hoje é véspera de São Pedro, data simbólica para minha família, porque é aniversário do meu irmão mais velho, Hermes Filho, que se foi para outro plano, há cinco anos. É um dia que nos traz muitas recordações, não só dele, mas também de outras pessoas queridas que marcaram sua passagem aqui na Terra, a exemplo de um senhor, pai de muitos filhos, que morava vizinho à casa de minha avó materna, onde por um tempo morei, assim como todos os meus outros irmãos. Meus avós eram muito acolhedores e, em qualquer dificuldade, era para lá que corríamos.
cfalvarez
Em criança, a véspera do dia de São Pedro era um dos mais esperados, pois era quando Seu Pedro comemorava sua nova idade e fazia uma grande festa na rua em que morava, como já disse, na casa vizinha à de minha avó. Era tanto balão e foguetão no ar que ficávamos com o pescoço dolorido de tanto olhar para o céu, que se enchia de cores e de formas, a nos encantar. E na frente da casa dele, uma grande fogueira queimava até tarde da noite, assim como, numa velha radiola, tocava música própria para a época, como “Eu quero chá” , de Luiz Gonzaga, melodia que ainda hoje ecoa em minhas lembranças. A culminância desse evento se dava quando, no final de tudo, ele acendia o pavio de uma grande girândola, no centro da qual, na medida em que queimava, painéis com fotografias
Pref. Machados (PE)
E foi numa dessas comemorações, justamente no dia em que meu irmão nasceu, de parteira, na casa de minha avó, que, fatídica e acidentalmente, um rojão achou de cair no quintal do fogueteiro, bem em meio à tenda-oficina em que ele produzia seus fogos. Isso foi um Deus-nos-acuda. O fogaréu foi se alastrando e o perigo de um incêndio de grandes proporções foi se configurando. Meu avô, meu pai e alguns moradores da proximidade se juntaram para retirar da casa ao lado da que pegava fogo, na cama em que estavam, após o parto, minha mãe e meu irmão recém-nascido.
Contam que o estrago só não foi maior porque Seu Pedro correu por dentro de casa, em meio às chamas, e conseguiu chegar até onde havia um barril cheio de pólvora, saindo com ele na cabeça para um descampado, após os limites do seu terreno, livrando todos de uma explosão que seria capaz, dizem, de arrasar o quarteirão.
MS
É claro que hoje as coisas são bem diferentes e certamente o gênio criativo de Seu Pedro seria desenvolvido com mais cuidados e num ambiente mais apropriado, com mais segurança. Aqui, no entanto, ficam as lembranças de um tempo bom e cheio de luz. Viva, São Pedro! Viva, São João!
