Realmente temos de sustentar uma opinião pessoal sobre qualquer assunto? Parece haver uma exigência social nesse sentido. As opiniões pessoais mudam e têm de mudar. Quem sustenta uma postura ideia fixa, não evolui.
Já na condição de presidente da África do Sul, Nelson Mandela foi perguntado, durante uma entrevista na TV, sobre a sua antiga postura dura acerca um tema polêmico. Sua resposta, desconcertante para o jornalista que a fez, tentando emparedá-lo, foi: “Obviamente, eu mudei”.
Quem pensa com seriedade, não pode se posicionar sem avaliar variáveis, sem ponderar antes de falar. Quem supervalorizava a opinião eram os antigos sofistas gregos, para quem toda a verdade era relativa. Diferentemente da opinião, o conhecimento exige maturação, paciência, meditação. Só quem não tem compromisso com o que diz, expressa-se de modo irresponsável, apenas para não deixar de opinar.
Nenhum saber científico é definitivo. Entretanto, para poder contribuir para o avanço da ciência numa determinada área é necessário, antes, assenhorear-se do que a humanidade já acumulou e conquistou no campo de estudo escolhido. Os cálculos que sustentam uma edificação têm de ser fiáveis e baseados num conhecimento seguro e consolidado. Uma estrutura apoiada numa opinião estaria fadada ao desabamento. Embora sejamos donos de nossos estômagos, quando experimentamos algum desconforto no sistema digestivo, procuramos um gastroenterologista, que é o profissional da medicina especialista no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças que afetam os órgãos associados ao trato gastrointestinal.
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Gottfried Leibniz chamou de “Philosophia Perennis” a sabedoria subjacente às várias tradições espirituais. Retomando a ideia do matemático e pensador alemão, o escritor britânico Aldous Huxley sugeriu que há uma sabedoria essencial compartilhada por todas as grandes tradições filosóficas e religiosas da humanidade, independentemente das suas diferenças culturais e históricas superficiais.
O homem de boa vontade é suficientemente humilde para se submeter a essa valiosa sabedoria dos “santos e dos sábios”, em vez de tentar viver por conta própria, experimentando o que funciona ou não e se sujeitando às piores consequências. Há, pelo menos, quatro advertências sobre isso no Livro de Provérbios, presentes no capítulo 12:15:
◼️ “o caminho do insensato parece-lhe justo, mas o sábio ouve conselhos”;
◼️ no capítulo 15:22: "onde não há conselho, frustram-se os projetos; mas com a multidão de conselheiros se estabelecem";
◼️ no capítulo 13:10: "da discussão só resulta a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria"; e no capítulo 19:20: "escuta os conselhos e aceita a instrução, e acabarás sendo sábio".
Mais importante do que sustentar e fazer valer uma opinião, é ser capaz de aprender com quem realmente sabe, como assevera Homero, na Ilíada: "os mais velhos são sábios, não desprezes o conselho de um ancião", numa sentença confirmada também por Baltasar Gracián, segundo quem "o primeiro passo para a sabedoria é ter um ouvido atento aos bons conselhos".
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