Nem queiram conhecer minha vizinha, Dona Zefinha. Pensem em uma criatura sem sensibilidade. Pois é assim essa figura de coração duro como um pedregulho. É esposa de Seu Arnaldo, este sim; gente fina e pai de Arnaldinho, mais gente fina ainda. Não dá para acreditar que Maria José, Arnaldo e Arnaldinho durmam sobre o mesmo teto, tão diferentes são os dois Arnaldos do terceiro vértice desse triângulo nada amoroso.
Já Seu Arnaldo é um homão espadaúdo, traço genético que deixou como herança ao rebento, pois o diminutivo em Arnaldinho é só para diferenciar um Arnaldo do outro, De “inho” o filho não tem coisa alguma. Adolescente, mas já grandão como o pai. Tanto um como outro, são criaturas muito chegadas em coisas da natureza. Gostam de cuidar dos jardins, dos vasos esparramados pelas varandas e quintal. Numa pitangueira ao fundo da residência e
Se deixassem por conta de Dona Zefinha, as plantas secavam e nossas avezinhas que fossem comer e beber em outras paradas. Só servem pra dar trabalho, reclama sempre ela. Não tem bons olhos para os poucos exemplares de nossa flora esparramados por alguns vasos e canteiros e nem para a fauna com aquelas avezinhas serelepes que aparecem pelo quintal.
E vejam mais, Arnaldinho sempre quis ter seu cão. Aqui em casa nem pensar. Soltam pelo e fazem sujeira em qualquer lugar, esbraveja a ranzinza. Assim, nosso rapazinho nunca dividiu espaços e carinho com algum totó para usufruir da estima desse companheiro de quatro patas. Gato também ela não quer.
Até aí cada família que viva como achar melhor. Até acho pouco delicado eu estar fazendo esses comentários em nosso prestigioso rotativo. Mas é que Dona Zefinha me trouxe aborrecimentos no último feriado de 1º de maio, quando recebi visita de amigo e esposa que tinham acabado de chegar lá das latitudes de baixo. Ofereci hospedagem e fui buscá-los no aeroporto.
⏤ Como está João Pessoa? ⏤ quiseram saber.
⏤ A cidade e ou o defunto? ⏤ chiste à parte, continuei ⏤ A cidade está linda, ainda mais por esses dias quando se dá a florada dos jambeiros.
Pelo caminho, eles que não conheciam a cidade, sempre que passávamos por um jambeiro ficavam encantados com aqueles tapetes vermelho-púrpura esparramados pelas ruas e calçadas.
⏤ Que coisa mais linda! ⏤ exclamou minha hóspede.
Acontece que meu jambeiro está a metro e meio da calçada daquela jararaca e quando cheguei em casa a surucucu tinha varrido a calça dela e a minha. Sobrou um pouco no meu quintal, mas nada do esplendor que eu esperava encontrar.
Quando cheguei a lambisgóia ainda estava por ali com a arma do crime na mão, vulgo vassoura. Ao me ver chegando veio toda prosa.
⏤ Fui tirar a sujeira de minha calçada, aproveitei e tirei a da sua também.
Para ela, sujeira eram os estames encarnados da florada. Olhei bem para aquela criatura que estava segurando firme a vassoura, não contive meu ódio e perguntei:
⏤ Dona Zefinha, a senhora vai viajar?