Alagoa Nova, 10 de junho de 1923. Nesta data nascia Carlos Augusto Romero, que se tornou um homem de bem. Grandioso nas suas atitudes. Um de nossos grandes cronistas do cotidiano. Humanista, deixou lições que ajudam a construir espaços de convivência no exercício do amor.
Poeta que escrevia crônicas, Carlos Romero habitou a paisagem que desejou porque sabia escolher os ingredientes para a composição de lugares místicos para viver.
Ouvinte silencioso das sinfonias que o vento executa, ainda quando menino em sua terra, olhava os horizontes cobertos de canaviais e se deliciava com a melodia dos pássaros, dos riachos e se encantava com o passeio das nuvens sobre Alagoa Nova.
Poucas pessoas que conheci tiveram a hombridade de Carlos Romero no trato com seus semelhantes. Sempre nos recebia com leve sorriso, com olhar acolhedor, com palavras suaves.
Pelo modo como se apresentava, facilmente percebíamos que ele era um homem feliz. Vivia largamente as coisas do seu interior e expressava isso com sabedoria e fulgor.
A sua terra andava com ele, mesmo que estivesse distante de Alagoa Nova: “A gente se livra de tudo, menos do passado”. E acrescentava: “Viver bem o presente que passa, para viver o passado que fica”.
Talvez por observar os lugares míticos de sua cidade e arredores, Carlos andava silencioso para ouvir as coisas ao seu redor. Sabia escutar as nuvens como um pastor que contempla a vastidão do mundo e desde mundo poder recolher o que existe de melhor.
A música sempre despertou nele emoção, como costumava ressaltar. Em tudo via a presença da música que saiu da criação de gênios como Bach ou Mozart.
Seu amor aos livros se misturou ao gosto pela música. “Quando a gente publica um livro é como se estivéssemos trocando de roupa”.
Cedo decidiu pela crônica, mesmo tendo enveredado pela poesia, e depois se tornou professor. Foi um dos cronistas que sabia distinguir as sutilezas da alma. Autor de texto refinado, preocupado com o uso correto da palavra escrita, suas crônicas são de uma beleza estética inconfundível. Ele trouxe para a crônica a dimensão poética, cuja leitura é um mergulho na emoção.
Autor de crônicas confessionais, foi um cronista de saudades, intimista. Isso fez dele um cronista identificado com os anseios de muitos. Sempre olhava para o cotidiano. Recolheu na sua arte o sentimento do mundo que está dentro de cada pessoa.
Ele esculpiu a crônica como um oleiro, refinava o texto como poucos na linha dos grandes mestres.
A página do jornal ficou menor a partir do dia em que Carlos passou a ser ausência.
Para mostrar quanto trabalhava seus textos como quem cuida de uma partitura, para trazer junto de si o leitor, em crônica publicada no livro A Dança do Tempo, de 1985, assim se expressou: “Estas crônicas são pedaços de mim. Junte-as, e você me terá de corpo inteiro”.
Ler seus textos é como escutar uma sinfonia do vento a penetrar em nossos ouvidos. A sutileza de suas crônicas tem a melodia do cântico dos pássaros, a suavidade das ondas do mar.
Cristão apaixonado por Deus, falava com fluidez sobre religião, principalmente o Espiritismo, sua paixão, através do qual buscava o diálogo com o Transcendental.
Ele foi um verdadeiro marco que assinala fase memorável na história da crônica paraibana.
No centésimo primeiro aniversário de seu nascimento, ficamos na saudade da sua presença física, mas temos a certeza de que Carlos Romero estará sempre na memória dos amigos.