Num recôndito canto da parte velha da Avenue Mohammed V, na famosa Medina de Rabat , a capital do Reino de Marrocos, encontra-se um tes...

Aziz, o livreiro de Rabat

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Num recôndito canto da parte velha da Avenue Mohammed V, na famosa Medina de Rabat, a capital do Reino de Marrocos, encontra-se um tesouro literário guardado por um homem cuja paixão pela leitura transcende o tempo e as adversidades. Mohamed Aziz, um livreiro de 76 anos de idade, tornou-se numa lenda viva não apenas pela sua longevidade no negócio, mas também pela dedicação incansável à disseminação do conhecimento e da cultura.

Nascido em 1948, a vida de Mohamed Aziz foi, desde cedo, marcada por desafios. Órfão aos seis anos, Aziz enfrentou a falta de recursos que poderiam ter interrompido os seus sonhos educacionais. Determinado a estudar, tentou ser pescador para custear os seus estudos. No entanto, aos quinze anos, viu-se obrigado a abandonar a escola devido à impossibilidade de arcar com o custo dos livros didácticos.

Frustrado, mas não derrotado, Mohamed Aziz decidiu transformar a sua adversidade em oportunidade. Em 1963, abriu uma modesta livraria de livros usados na Medina de Rabat. A sua loja, inicialmente composta por livros dispostos num tapete no chão sob a sombra de uma árvore, foi crescendo ao longo das décadas, tornando-se um ponto de referência para os amantes da leitura na cidade, e não só.

Apesar dos desafios e da jornada difícil que enfrentou, Mohamed Aziz mantém-se firme no seu propósito. Para ele, o conhecimento é uma fonte inesgotável de alegria e de satisfação.


Todos os dias, antes de abrir a livraria, AZIZ procura livros usados em outras lojas, para ler e vender. Hoje, aos 76 anos de idade, diz que com duas almofadas e um livro é o suficiente para se sentir feliz. Ele acumula torres de livros e quando lhe perguntam quantos tem, responde: "não o suficiente". Interrompe a leitura apenas para rezar, fumar, comer e atender e aconselhar clientes interessados em temas específicos. Actualmente, a sua livraria é famosa e muitos turistas visitam-na para comprar algum livro e tirar fotos.

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Aliás, o compromisso de Mohamed Aziz com os livros é exemplar. Ele passa entre 6 a 8 horas por dia imerso em leituras, tendo lido mais de 5.000 livros em francês, árabe e inglês ao longo da sua vida. A sua filosofia simples sobre a segurança dos seus livros, mesmo mantendo-os fora da loja, onde poderiam ser roubados, reflecte a sua crença na educação e no respeito mútuo entre as pessoas. Quando questionado sobre o facto de deixar os seus livros desacompanhados no exterior da loja, onde poderiam potencialmente ser roubados, responde que quem não sabe ler não rouba livros, e quem sabe não é ladrão.

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Ao longo dos anos, a livraria de Mohamed Aziz tornou-se um ponto de interesse para turistas e amantes da cultura, que visitam não apenas para comprar livros, mas também para ouvir as suas histórias, receber conselhos literários e capturar um vislumbre do espírito apaixonado que ele incorpora.

Mohamed Aziz não é apenas um livreiro, mas um símbolo de resiliência, determinação e amor pelo conhecimento. A sua história inspiradora ecoa além das paredes da sua livraria, lembrando-nos da importância da educação, da paixão pela leitura e da capacidade humana em superar os obstáculos em busca dos nossos sonhos.
APRESENTAÇÃO
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António José Rodrigues é autor do livro "Um Certo Oriente", que reúne crônicas sobre suas experiências com a cultura do Norte de África, Oriente Médio, Golfo Pérsico e Ásia. É ensaísta, orientalista e, semanalmente, aos domingos, apresenta o programa com o mesmo nome de seu livro, transmitido pela Telefonia da Amadora, das 21h às 22h, horário (de verão) de Portugal continental, que corresponde à faixa das 17h às 18h, no horário de Brasília.

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