A falsa tolerância é uma repressiva força ideológica, a fim de excluir, de dominar e manter um poder autoritário contra cidadãos destruídos pela miséria humana, que estão desprovidos de oportunidades para sobreviver dignamente. A crueldade de destruir para dominar torna um cidadão subordinado e submetido ao convencimento da existência de um poder maior, que deve ser obedecido.
Consequentemente, a perversidade humana não contribui para o bem-estar social. Nessa situação, o ódio à democracia se apresenta como o ódio ao bem comum. Em seu livro O ódio à democracia (2005), Jacques Rancière (1940), filósofo francês, esclarece o que há no sentimento antidemocrático. A obra mostra-se atual, também em relação ao debate que vem crescendo sobre participação e representação popular, democracia direta e o desejo de que a política signifique mais do que uma escolha entre oligarcas substituíveis.
O diálogo ou a comunicação por meio da aceitação do pluralismo de ideias pode ser uma maneira de promover a educação quando as pessoas buscam interesses em comum para o benefício da coletividade. Dessa forma, um consenso ético pode ser estabelecido. No entanto, é fundamental distinguir entre ética e moral. A moral é um conjunto de normas próprias de uma cultura em um dado momento de sua história, enquanto a ética reflete a capacidade sensível e solidária de uma pessoa, dependendo de seu caráter e integridade.
Durante décadas, a paz do mundo tem sido afetada. Os acordos internacionais que buscam manter a unidade entre as nações estão sendo desobedecidos, contribuindo para a degradação do nosso planeta. Desde os anos 70, diversos tratados foram estabelecidos, como os Tratados de Mísseis Antibalísticos e o Tratado das Forças Nucleares Intermediárias. Desde 2002, tanto os Estados Unidos quanto a Rússia se retiraram desses acordos, alegando descumprimento de obrigações e alimentando uma crescente instabilidade econômica global, resultando em tensões militares entre países. A partir de 1984, destaca-se a importância dos tratados relacionados ao uso de armas nucleares, como o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START I). O START II visava evitar o uso de múltiplas ogivas em mísseis intercontinentais e, embora assinado em 1993, não foi efetivado. Em 2002, a Rússia se retirou do tratado em retaliação à saída dos EUA do Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM). Diante disso, o conflito foi estabelecido, gerando novas armas com a energia nuclear para destruir uma país ou continente, desenvolvida pela ciência e tecnologia.
Em seu livro Eclipse da Razão (1947), o filósofo e sociólogo alemão Max Horkheimer (1895 - 1973) propõe o conceito de razão instrumental para questionar sua tendência de utilizar a técnica como meio de controle global. Por outro lado, Jürgen Habermas (1929), outro filósofo e sociólogo alemão, versa em sua obra Teoria da Ação Comunicativa (1981) a noção de que a razão não se resume à sua natureza utilitária. Ele prioriza e focaliza sua função comunicativa. Para Habermas, a linguagem cotidiana incorpora uma forma de racionalidade essencial, e a ação comunicativa é baseada na reciprocidade e sinceridade da fala. Assim, a interação por meio da linguagem garante que os cidadãos compartilhem um mundo construído a partir do diálogo e do respeito mútuo.
Jürgen Habermas propõe um modelo de comunicação baseado em ações compartilhadas diante de conflitos e da razão, com o propósito de promover a compreensão entre os cidadãos por meio de um diálogo não violento, mesmo em situações de violência ou adversas. Para o filósofo, a sinceridade e o respeito pelo outro são aspectos fundamentais no diálogo. No contexto da ação comunicativa, é essencial evitar a manipulação para promover a cooperação, seja em relação ao poder político ou econômico.
Jürgen Habermas é responsável por estabelecer os fundamentos da ética da discussão, na qual as questões de moralidade são examinadas ao invés de se apoiar em um valor moral considerado como universal. Segundo sua tese, uma norma ética somente é legitimada quando é objeto de um debate livre. O ato comunicativo visa a alcançar entendimento entre os indivíduos, sendo a base para uma nova abordagem ética. A interação comunicativa deve se dar por meio de posturas nas quais os cidadãos não estejam visando exclusivamente o sucesso individual, mas sim buscando seus objetivos de forma a respeitar uma harmonia de ação em torno de interesses comuns, através da negociação para garantir a compreensão mútua.
A importância e a necessidade do agir comunicativo no âmbito político propõe enriquecer os diversos campos do conhecimento. A teoria de Habermas oferece bases para alternativas à democracia representativa. Nos dias atuais, as estratégias utilizadas por aqueles cidadãos descontentes com a representatividade dos políticos e governante, são as suas participações nas audiências públicas, nos comitês democráticos, no orçamento participativo e plebiscitos. Dessa forma, a ética do diálogo e a tolerância assegura o agir para o bem comum.