A vida é um fluxo eterno de criação e destruição, e o amor, nesse contexto, não é nem pode ser eterno. Não é fácil para a condição humana aceitar o fim, o encerramento de conexões profundas cultivadas ao longo do tempo, mas é preciso entender que relacionamentos, como tudo o mais na vida, não estão previamente e sem mais destinados a durar para sempre. Nossas experiências e circunstâncias influenciam sentimentos e sensações e é preciso aceitar que o amor pode passar por transformações e desafios ao longo da vida, podendo levar as pessoas, em algum momento, a optar por seguir caminhos diferentes.
Não é possível, como quando se idealiza romanticamente o amor, construir na vida real, com pessoas concretas, uma relação de fascínio e encantamento contínuos que sobrevivam às provocações esmagadoras do cotidiano. Compreender isso, bem como e principalmente aceitar, cada um, a solidão e o silêncio do outro, é sempre muito difícil, desafiador, mas é condição essencial para se fazer perene e duradoura uma relação amorosa.
Não é possível, como quando se idealiza romanticamente o amor, construir na vida real, com pessoas concretas, uma relação de fascínio e encantamento contínuos que sobrevivam às provocações esmagadoras do cotidiano. Compreender isso, bem como e principalmente aceitar, cada um, a solidão e o silêncio do outro, é sempre muito difícil, desafiador, mas é condição essencial para se fazer perene e duradoura uma relação amorosa.
Você, que me escreveu em doloroso sofrimento pelo fim, pelo abandono inesperado de seu companheiro, recomendo a leitura de Ovídio, Publio Ovídio Naso, o poeta romano que fez nome na literatura latina com sua Arte de Amar. Nos seus versos, conforme nos diz Harald Weinrich, ele ensina a arte de amar e, se preciso, a arte de desaprender esse amor outra vez. Exercite-se, pois , nesse “desaprendizado” proposto por Ovidio. Talvez possa apaziguar o coração e assossegar a dor que tanto lhe atormenta e envenena.
Ovidio compreende a arte de esquecer o amor como uma arte curativa e no poema “Remédios contra o Amor”, dirige-se a pacientes homens e mulheres dando sugestões terapêuticas, que trarão , como consequência, o apagamento do amor da memória. Os remédios prescritos não são farmacêuticos. Ele desdenha as drogas do esquecimento, como por exemplo a Flor de Lotus, conhecida das leituras de Homero; e uma vez somente se refere ao vinho, que saboreado moderadamente aumenta o amor, mas tomado desmedidamente debilita-o. Nesse ponto se distingue de Schiller, que passou muitas horas alegres bebendo com Goethe, e que recomendava:
“Bebe a bebida de alívio
E esquece a grande dor
Magnífico é o dom de Baco
Balsamo para o coração dilacerado”
Como paciente de Ovídio, médico-poeta, a vítima do abandono deve, primeiramente, treinar ao máximo a memória para evocar o mais nitidamente possível as falhas de quem se foi e a própria dor do amor que essas mesmas falhas causaram. A arte de lembrar deve ser colocada a serviço da arte de esquecer e a doçura do amor antigo deve ser transformada em algo azedo. A seguir, deve remover de casa os retratos...ve jamais reler as cartas. Do mesmo modo, deve evitar locais ligados à lembrança de quem se foi, especialmente quarto e cama.
Ovídio recomenda ainda viajar. Para evitar obstáculos à obtenção de um esquecimento eficaz, é apropriado organizar uma viagem para longe e por um bom tempo, se possível com amigos, para não se entregar solitário a devaneios. Conversas interessantes são bons remédios para esquecer. Mas é acertado evitar música e dança, coisas quase sempre muito próximas do chamego antigo. E cautela, muita cautela com o ócio e com ocupações perigosas como a leitura de poetas, que nunca são inimigos do amor...
Em conclusão, Ovidio sugere o mais eficaz dos remédios , o remédio infalível, remédio extremo, que põe fim a toda dor, a todo sofrimento: UM NOVO AMOR. Qualquer amor é vencido pelo novo ardor, pela despudorada resplandescência de um novo amor.