Andei relendo, esta semana, o negro Lima Barreto, não o do romance, o do belo e poético romance de Policarpo Quaresma. Mas o da crônica...

Os paraíbas na crônica de Lima Barreto

lima barreto literatura paraibana
Andei relendo, esta semana, o negro Lima Barreto, não o do romance, o do belo e poético romance de Policarpo Quaresma. Mas o da crônica, o que vai no bonde, desce no café e traz à luz, tantos janeiros depois, as vozes anônimas das ruas que ficaram soterradas no Bota Abaixo de Pereira Passos, na Revolta da Vacina, no passeio guarnecido de destroyer, pela Baía da Guanabara, do nosso Presidente Epitácio. Que ostentação de força e de poder!

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José Maria dos Santos
Queria ver, nesse Rio do começo do século XX, de 1910, 1911, 1912, os dois negros se encontrarem, entrarem no mesmo café, cruzarem pelo menos na mesma calçada: o negro Lima e o nosso José Maria dos Santos, o homem nascido aqui na rua Duque de Caxias e que chegou a redator do Le Figaro e redator-chefe do Petit Parisien. Ignorado na terra natal, viu sua obra “Política Geral do Brasil” traduzida em inglês. De pontos de vista diferentes, não há dúvida, mas da mesma cor, do mesmo extrato social, da mesma crítica ao autoritarismo republicano, do mesmo anti-positivismo... da mesma inteligência, enfim.

E saí com Lima - permita-me o leitor essa intimidade - na esperança de encontrar o outro. Naquela altura Zé Maria já havia deixado a Escola Militar, já tinha ido como soldado a Canudos, já fizera a sua embaixada no Acre, ao lado de Plácido de Castro e, como o romancista suburbano do Rio, fizera a sua estreia na imprensa. Os dois viram a mesma coisa, só que separados. Será que não vou encontrá-los? - desejei.

Ainda não terminei a viagem. Mas encontrei, em lugar do paraibano da minha pesquisa, dois que eu não procurava: José Vieira e o senador Cunha Pedrosa. Sem falar no passeio guarnecido de destroyer do presidente Epitácio.

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José Vieira aparece na pauta do romancista de Isaías Caminha para um comentário sobre Sol de Portugal, romance que o paraibano acabara de lançar. Lima não comenta, atarefado com outro assunto mais premente, mas a forma como se refere a José Vieira insinua muita simpatia. Na viagem, é possível que eu vá encontrar esse comentário tão precioso para a minha curiosidade sobre o romancista de Mamanguape que se tornou nacional.

Lamento que a Paraíba de hoje desconheça José Maria dos Santos, José Vieira e Cunha Pedrosa!

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  1. Flávio Ramalho de Brito26/5/24 17:22

    Conforme Francisco de Assis Barbosa, um dos principais biografos de Lima Barreto, José Vieira era amigo do escritor de Policarpo Quaresma. O volume V da série A Paraíba na Literatura resgatou o esquecido romancista paraibano em um dos seus artigos que coube a mim escrever. Sobre José Maria dos Santos, Gonzaga trabalha em uma reedição ampliada de obra que ele já publicou.

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