Walfredo Soares dos Santos Leal nasceu em 21 de fevereiro de 1855 na bucólica cidade de Areia, antigo “Sertão do Bruxaxá”, que muito...

O Monsenhor Walfredo Leal, homem de fé e político de coragem

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Walfredo Soares dos Santos Leal nasceu em 21 de fevereiro de 1855 na bucólica cidade de Areia, antigo “Sertão do Bruxaxá”, que muitos ainda hoje chamam de Vila Real do Brejo d’Areia. Era filho de Maria Emília dos Santos Leal (1833-1896) e de Matias Soares Cavalcante (1829-1893). Emília era irmã de Joaquim José dos Santos Leal, mais conhecido como Coronel Quinca, um dos comandantes da guarda imperial na Revolução Praieira. O casal teve ainda cinco outros filhos: Graciano Soares Cavalcante (1854-1937); Umbelina Soares dos Santos Leal (1856-1948); Maria Magdalena Soares dos Santos Leal (1857-1949), Anna Emília Soares dos Santos Leal (1860-1840) e Josefa Leopoldina Soares dos Santos Leal (1863-1944).

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Jayme Augusto de Almeida
Acervo do autor
À época, era comum, entre as famílias tradicionais, que dentre um dos irmãos saísse um padre, sendo que a escolha recaiu exatamente em Walfredo, embora ele tenha, alguns anos depois, revelado a seu sobrinho Jayme Augusto de Almeida que, em seu caso, tratou-se muito mais de uma vocação do que imposição familiar.

Iniciou o estudo de suas primeiras letras aos sete anos de idade, na cidade natal, com o professor José Ignácio Guedes Pereira e, depois, com seu parente, o mestre José Beraldo dos Santos Leal, sempre acompanhado de seu fiel e leal amigo de uma vida inteira, Adauto Aurélio de Miranda Henriques, também nascido em Areia, no caso deste em 30 de agosto de 1855, tendo falecido em João Pessoa a 15 de agosto de 1935. O professor José Beraldo era pai da famosa professora Júlia Verônica dos Santos Leal,, que educou a grande maioria dos políticos e homens de Letras importantes da cidade.

Para complementar sua formação, ambos foram estudar no Seminário de Olinda, dedicando-se ao estudo religioso, com ênfase em Teologia, Latim e Francês. Ao completarem essa formação seminarística, dirigiram-se à Europa, mesmo porque já tinham demonstrado vocação eclesiástica. Passaram a estudar Filosofia no Seminário de São Suplício, em Issy-Les-Moulineaux, em Paris, e Teologia, na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Em 18 de setembro de 1880, são ordenados padres, em Loreto, Roma.

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Seminário São Suplício (Issy-Les-Moulineaux, Paris) Myrabella
Finalmente, retornam ao Brasil, em fins de 1880, sendo o Monsenhor Walfredo Leal nomeado sacerdote da Diocese de Guarabira (PB) e exercendo suas funções na igreja de Nossa Senhora da Luz, enquanto o Monsenhor Adauto vê-se nomeado professor do Seminário de Olinda, lecionando Filosofia, Francês e Direito Canônico. Em 1892, o Papa Leão XIII cria a primeira Diocese da Paraíba, nomeando para dirigi-la seu antigo colega de Seminário, em Roma, Dom Adauto de Miranda Henriques. Em 2 de janeiro de 1894, o mesmo Dom Adauto é nomeado bispo da Diocese da Paraíba, que incluía as dioceses de Cajazeiras (PB) e Natal (RN). Adauto, porém, só foi ordenado bispo em 7 de janeiro de 1894, no Colégio Pio Latino, em Roma, tomando posse na Diocese da Paraíba em 4 de março de 1894. Por fim, é ainda Dom Adauto que se torna Arcebispo em 6 de fevereiro de 1914, permanecendo à frente da Arquidiocese paraibana até sua morte.

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Arquidiocese da Paraíba Minube
Dom Adauto dirigiu a Arquidiocese da Paraíba com pulso firme e, por isso mesmo, em meio a polêmicas, notabilizando-se pelas pastorais em que condenava o liberalismo, o ateísmo, o comunismo, a maçonaria, a pretensa emancipação da mulher e o relaxamento de costumes trazido pelo urbanismo e pela industrialização. Ressalte-se, também, a longa divergência surgida em 1930 entre o Arcebispo Dom Adauto e o presidente estadual (governador) João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. É que o Arcebispo defendia o Registro Civil, bem como do casamento civil, como prerrogativas da Igreja, ao passo que o João Pessoa, jurista advindo da Justiça Militar, era adepto de um Estado absolutamente laico.

Em sua gestão, Dom Adauto fundou 13 colégios, erigiu 19 novas paróquias, realizou quase 200 visitas pastorais e ordenou 140 padres, numa administração em que trabalhava muito e fazia com que os outros trabalhassem. Fundou em João Pessoa o Seminário Arquidiocesano, o Colégio Pio X e, antes, o semanário “A Imprensa”, edificando ainda o belo edifício popularmente chamado de Palácio do Bispo. Trata-se de construção
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Colégio Pio X @vidamarista
de pé até hoje e que sempre serviu como sede da Arquidiocese. Seu lema religioso era “Iter para tutum” [“Prepara o caminho seguro”].

Já o Monsenhor Walfredo, embora homem dedicado à vida religiosa, tornou-se político em vista das circunstâncias impostas pela vida, com o desejo de sempre ajudar os desvalidos e os mais necessitados. Era extremamente generoso, por sua própria formação, e se compadecia da pobreza. Tinha grande cultura, pois era um leitor contumaz, além de falar fluentemente três idiomas, afora o português (latim, francês e italiano), algo incomum na Paraíba da época. Na vida pública, na qualidade de político, cumpriu suas obrigações com dedicada determinação, sempre visando ao bem comum. Por esta razão, obteve sucessivos êxitos e viu-se mui bem respeitado pelo povo paraibano.

Sua carreira política teve início em 1891, logo após a Proclamação da República, em 1889, quando apoiou a deposição do então Presidente do Estado, Venâncio Neiva, que fora nomeado pelo à época Presidente da República, o marechal Deodoro da Fonseca. Em 3 de novembro de 1891, uma revolta da Marinha torna iminente uma guerra civil no país. Forçado, o presidente Deodoro renuncia em 23 de novembro
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Floriano Peixoto CC0
desse mesmo ano de 1891, em favor do Vice-Presidente, o marechal Floriano Peixoto, também conhecido como o “Marechal de Ferro”, que imediatamente destitui todos os Presidentes das Províncias apoiadores do Presidente Deodoro. Por esta razão, a Parahyba passou a ser governada por uma junta cívico-militar composta por Cláudio do Amaral Savaget, Eugênio Toscano de Brito e Joaquim Ferreira de Carvalho, até que, em 18 de fevereiro de 1892, o Governo central nomeou o engenheiro militar Álvaro Lopes Machado como Presidente do Estado e o monsenhor Walfredo Leal como seu Vice-Presidente. Ambos foram indicados por influência direta do republicano e abolicionista João Coelho Gonçalves Lisboa, que já morava no Rio de Janeiro e os conhecia de sua cidade natal, Areia (PB).

Exercendo forte influência no Brejo e no Litoral, o monsenhor Walfredo elegeu-se Deputado Estadual Constituinte em fins de 1891, tomando posse na Assembleia Legislativa antes mesmo de ser nomeado Vice-Presidente da Parahyba. Em 1893, renunciou ao cargo de deputado, permanecendo apenas como Vice-Presidente estadual. Em 17 de maio de 1896, o Presidente da Parahyba, Álvaro Machado, renunciou ao cargo para concorrer ao Senado da República, assumindo o cargo de Presidente da Parahyba o monsenhor Walfredo, filiado ao Partido Social Nacionalista, permanecendo no cargo até 22 de outubro de 1896.

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Dom Adauto de Miranda Henriques
CC0
Com as novas eleições, assume a Presidência do Estado o Dr. Antônio Alfredo da Gama e Melo (1896-1900). Nesse período, o monsenhor Walfredo retornou à Diocese da Parahyba, então recentemente criada, passando a desenvolver suas atividades com seu velho companheiro Dom Adauto. Logo percebeu que o Governo de Gama e Melo não cumpria com as promessas de campanha, principalmente no tocante a apoiar os mais carentes e os oprimidos. Assim, em 1901, retornou à Política partidária, elegendo-se Deputado Federal e exercendo o mandato até 22 de outubro de 1904, quando renunciou, abrindo vaga para que, em novo pleito, fosse eleito seu primo Antônio Simeão dos Santos Leal, filho de sua prima legítima Maria Laurinda Mota dos Santos Leal.

A renúncia ocorreu em virtude de ele haver sido eleito novamente Vice-Presidente da Parahyba, em chapa formada com Álvaro Machado. Permaneceu no cargo até 28 de outubro de 1905, quando Álvaro Machado renunciou mais uma vez para se candidatar ao Senado. Com esta renúncia, o Vice-Presidente, monsenhor Walfredo, assumiu definitivamente a Presidência da Parahyba, tornando-se o sétimo Presidente estadual e permanecendo no cargo até 28 de outubro de 1908.

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Álvaro Machado CC0
Seu Governo foi marcado por grave crise econômica, dificultando muito os benefícios distribuídos ao povo pobre do Estado. Ao fim de seu período governamental, tornou-se adversário político de Coelho Lisboa, apoiador da candidatura de Apolônio Zenaide à Presidência estadual. Como homem de fibra e princípios éticos rígidos, manteve-se fiel ao amigo Álvaro Machado, elegendo um irmão deste, o médico João Lopes Machado, como seu sucessor.

Já cansado da vida pública, não pretendia mais disputar nenhum cargo eletivo, para retornar exclusivamente à vida religiosa. Mas, em 1909, é convencido por Álvaro Machado a disputar o Senado da República, de fato se elegendo para o período de 1909 a 1917. Como Senador, exerceu forte influência nas decisões políticas do Estado, sempre consultado que era pelos políticos da época. Nessa campanha ao Senado, teve ajuda fundamental de seu sobrinho, o Dr. José Américo de Almeida, filho de sua irmã mais nova, Josefa Leopoldina, formada em 1908 pela Faculdade de Direito do Recife. Josefa solicitou então ao irmão Walfredo uma posição para o filho, desde que este permanecesse o mais próximo dela possível. Assim, José Américo é nomeado em 1911, aos 24 anos de idade, Procurador Geral do Estado.

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João Pereira de Castro PintoCC0
Em 1912. teve início nova disputa política para a Presidência estadual. Um dos ministros do Supremo Tribunal Federal, Dr. Epitácio Pessoa, paraibano, queria que o candidato fosse seu irmão, Antônio da Silva Pessoa. No entanto, o senador Walfredo não concordava com a indicação, pois ele mesmo queria ser o candidato. Para serenar a disputa, o senador Walfredo propõe o nome do deputado federal João Pereira de Castro Pinto, que conhecera enquanto Presidente estadual. Embora não fosse a vontade de Epitácio, este aceitou a indicação de Walfredo, desde que seu irmão fosse o candidato a Vice-Presidente.

Além do mais, as qualidades já demonstradas por Castro Pinto enquanto homem público já eram bem evidentes. Em 1915, depois de acirrada disputa política, Epitácio — já como comandante político do Estado — lançou o nome de Manuel Gomes da Cunha como candidato ao Senado, contra João Machado, inimigo político e pessoal de Epitácio, mas que tinha o apoio irrestrito do senador Walfredo. Seguiu-se uma campanha insidiosa, durante a qual Epitácio, mesmo fora do Estado, dava ordens a seus correligionários e as queria ver cumpridas à risca, caso contrário esses seguidores eram relegados a segundo plano.

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Epitácio Pessoa Jebulon
Já os do lado de João Machado obedeciam ao monsenhor-senador Walfredo, que logo apelidou os eleitores de Epitácio de “bacuraus” e empolgou as massas com sua oratória. Ao fim da eleição, Manuel Gomes é eleito, em virtude do prestígio pessoal de Epitácio. Inconformados com o resultado do pleito, os seguidores do monsenhor Walfredo tentam fazer um acordo com os senadores Pinheiro Machado e Bernardo Monteiro, líder do governo Venceslau Brás, de modo que Epitácio conservasse a maioria dos deputados e João Machado ocupasse a cadeira no Senado. Epitácio, entretanto, resistiu à intervenção dos dois políticos e manteve o reconhecimento pela Câmara dos Deputados de seus quatro deputados eleitos, o mesmo ocorrendo na Comissão de Verificação de Poderes do Senado em relação ao Senador eleito.

Em 1917, ao encerrar o mandato de Senador, Walfredo tenta mais uma vez retornar à vida religiosa, sem êxito. Em 1920, rompe com o sobrinho José Américo, que apoiava o candidato adversário, Solon de Lucena, do Partido Republicano Conservador e primo de seu adversário político, Epitácio Pessoa. No entanto, em 1922, devido à sua coerência, lealdade, erudição e fácil oratória, é novamente convocado pelo Partido a fim de disputar uma vaga de Deputado Federal. Elege-se e permanece na Câmara até 1926. Já sem muita disposição para a disputa política, também se elege deputado estadual em 1928. Nessa eleição, reaproxima-se de Epitácio Pessoa, permanecendo no cargo até a Revolução de 1930, da qual discordava frontalmente.

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Walfredo LealCC0
Já completamente desiludido com os rumos que tomava a Política, resolveu abandonar de vez os embates partidários, sem querer mais disputar qualquer cargo eletivo. Passa então a se dedicar exclusivamente à vida eclesiástica. Com a ajuda do arcebispo Dom Adauto, seu amigo de fé, inicia a construção da Paróquia de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no bairro de Tambiá, nas proximidades de sua residência. Aí permanece como vigário até a morte.

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Pinheiro Machado CC0
Ao longo de sua carreira política, Walfredo foi Vice-Presidente do Partido Republicano Nacional, que formava chapa com o Senador Pinheiro Machado. Em 1940, compareceu a seu último evento político: a posse de seu sobrinho Francisco Cícero de Melo Filho como prefeito da capital paraibana. Francisco era filho de sua irmã Umbelina Soares dos Santos Leal. Tinha muito apreço pela família, tanto é que encaminhou dois sobrinhos para vida religiosa: Matias Freire, filho de sua irmã Anna Emília com o Barão de Mamanguape; e Inácio de Almeida, filho da sua irmã Josefa Leopoldina com o Capitão Inácio Augusto de Almeida.

Além do mais, Walfredo fez de Matias Freire um deputado federal mui atuante — e teria feito o mesmo com o outro sobrinho, Inácio, não fosse uma briga familiar em 1937. Visitava semanalmente suas irmãs, Umbelina e Josefa, quando se mudaram para a capital do Estado. A herança recebida da mãe, a Fazenda Jandaíra, viria a ser administrada, sob sua supervisão, por outro sobrinho, meu bisavô Jayme de Almeida, até este se mudar também para a capital do Estado, após seu período como interventor da cidade de Areia.

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  1. Uma aula da história política da Paraíba 👏👏👏👏👏👏👏👏👏✂️🪡🧵

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  2. Parabéns pela pesquisa da história desses ilustres paraibanos de Areia! 👏👏

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  3. Muito boa sua pesquisa, Eduardo Jorge. Fez um excelente trabalho. Forte abraço. Regina F Almeida Lyra Toscano

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