NOME
O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fome pelo espasmo de minha carne pouca e esse desapego deixou de ser escolha, é o meu rastro pelas calçadas onde escrevo meu nome de hoje antes que eu mesmo esqueça.
O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fome pelo espasmo de minha carne pouca e esse desapego deixou de ser escolha, é o meu rastro pelas calçadas onde escrevo meu nome de hoje antes que eu mesmo esqueça.
O MANTO NEO-BARROCO
O manto da santa fome é negro e de plástico, é de uma beleza lúgubre, e recobre o corpo com um capricho irônico (a estética também encontra o seu lugar no vazio.) A madona neo-barroca não tem sexo jaz despida e voraz, é um dejeto sob a marquise da cidadela de vidro.
O manto da santa fome é negro e de plástico, é de uma beleza lúgubre, e recobre o corpo com um capricho irônico (a estética também encontra o seu lugar no vazio.) A madona neo-barroca não tem sexo jaz despida e voraz, é um dejeto sob a marquise da cidadela de vidro.
O SONO DOS INVISÍVEIS
Se meu reflexo sob o manto sujo chegar aos olhos de um passante atento e nele inspirar um pesar confuso por saber-me mais que um simples momento em que desviar os olhos seria o justo com possível esgar, sem nenhum remorso, valerá a foto, o poema, o custo de despertar do sono o cultor do ócio da indiferença, e remover o lustre, as lantejoulas, selfies e os andrajos, devolvendo a crueza do presente momento, dessa solidão, do mote da falta de pão, de amor e de amparo, pois amar é mais que a mundanidade.
Se meu reflexo sob o manto sujo chegar aos olhos de um passante atento e nele inspirar um pesar confuso por saber-me mais que um simples momento em que desviar os olhos seria o justo com possível esgar, sem nenhum remorso, valerá a foto, o poema, o custo de despertar do sono o cultor do ócio da indiferença, e remover o lustre, as lantejoulas, selfies e os andrajos, devolvendo a crueza do presente momento, dessa solidão, do mote da falta de pão, de amor e de amparo, pois amar é mais que a mundanidade.
ANTIOPIA AUSTRAL
Não havia mais
caminho
só uma pedra
Crack – Heitor
Brasileiro
Na matemática
dos inconsoláveis
uma pedra é uma pedra;
e o muro, encosto.
Mas a chuva
amanhecida
na garrafa pet
encarna a esperança.
(O que desperta,
a cidade
esmaga.)só uma pedra
Crack – Heitor
SONETO SEM TETO
O tédio faz brotar o Eu perverso, nos cantos esquecidos dos escombros, e da sombra, o rugido do universo surge na boca imensa do ser manso. Pois se o calor emana da tristeza, e a paixão é pólvora do selvagem, o sopro faz tremer a chama acesa, e a urgência é a medida da voragem. E nada sobra que se preze e guarde àquele ser que se debate firme contra uma vida que esmaga e late. Resta o engate ao cerne da maldade, sem esperança, se atirar ao crime, e ser centelha no porvir da tarde.
O tédio faz brotar o Eu perverso, nos cantos esquecidos dos escombros, e da sombra, o rugido do universo surge na boca imensa do ser manso. Pois se o calor emana da tristeza, e a paixão é pólvora do selvagem, o sopro faz tremer a chama acesa, e a urgência é a medida da voragem. E nada sobra que se preze e guarde àquele ser que se debate firme contra uma vida que esmaga e late. Resta o engate ao cerne da maldade, sem esperança, se atirar ao crime, e ser centelha no porvir da tarde.
Poemas do livro O mais Eu de todos em mim
vive me desconhecendo ■ de Vitor Nogueira e Jorge Elias Neto, a ser lançado em breve.
Nestes tempos de dicotomia nas paixões
Fernando Pessoa, o assumido poeta do EU, sabia que o olhar necessita de um objeto, daquilo em que se depositam o desejo, a angustia, a dor, a febre – e, é claro, a esperança e tudo que a circunda. Inclua nesse rol, a compaixão. Eis a questão tão inequívoca quanto necessária: como, situado neste mundo, pode o poeta abster-se do real e ignorar o que lhe cerca? A dupla Vitor Nogueira – Jorge Elias Neto encara esse real e, cada um com seu olhar – complementares, diga-se -, observa que o mundo não é exatamente o que se mostra: ele é mais intenso, mais vil e mais desigual do que imagens e palavras possam expressar. Daí a necessidade de compadecer-se e agir. A ação em “O mais EU de todos em mim vive me desconhecendo”, num certo sentido, confirma o português Pessoa: a realidade faz com que nos reconheçamos de todos os modos possíveis, e a poesia e a fotografia (ambas de uma beleza crua e essencial, definitiva) podem nos levar muito além, plenas de luz e vida, impelindo-nos a reconhecer que fazemos parte de um mundo que, ao menor descuido, tende a nos abominar e a nos rejeitar.
Estamos, todavia, todos juntos. E, felizmente, para o nosso consolo, com Vitor e Jorge nos guiando.
(Francisco Grijó - escritor)
Nestes tempos de dicotomia nas paixões
Fernando Pessoa, o assumido poeta do EU, sabia que o olhar necessita de um objeto, daquilo em que se depositam o desejo, a angustia, a dor, a febre – e, é claro, a esperança e tudo que a circunda. Inclua nesse rol, a compaixão. Eis a questão tão inequívoca quanto necessária: como, situado neste mundo, pode o poeta abster-se do real e ignorar o que lhe cerca? A dupla Vitor Nogueira – Jorge Elias Neto encara esse real e, cada um com seu olhar – complementares, diga-se -, observa que o mundo não é exatamente o que se mostra: ele é mais intenso, mais vil e mais desigual do que imagens e palavras possam expressar. Daí a necessidade de compadecer-se e agir. A ação em “O mais EU de todos em mim vive me desconhecendo”, num certo sentido, confirma o português Pessoa: a realidade faz com que nos reconheçamos de todos os modos possíveis, e a poesia e a fotografia (ambas de uma beleza crua e essencial, definitiva) podem nos levar muito além, plenas de luz e vida, impelindo-nos a reconhecer que fazemos parte de um mundo que, ao menor descuido, tende a nos abominar e a nos rejeitar.
Estamos, todavia, todos juntos. E, felizmente, para o nosso consolo, com Vitor e Jorge nos guiando.
(Francisco Grijó - escritor)