Inicialmente, creio ser de bom alvitre considerar que para mim, o título de mestre tem uma conotação bem mais ampla do que aquela atrib...

Máximas e mínimas do mestre Chico

chico viana
Inicialmente, creio ser de bom alvitre considerar que para mim, o título de mestre tem uma conotação bem mais ampla do que aquela atribuída pelas academias. Aqui, do outro lado das fronteiras de um campus universitário, a patente de “mestre” é bem mais do aquele título que precede ao de doutor. Nesta outra banda da divisa; por exemplo, um mestre carpinteiro, é aquele que domina não só o manuseio da plaina e da enxó e outras ferramentas da carpintaria, mas é quem transforma madeira em arte como ao dar forma às tesouras
em telhado de muitas águas. Haja talento!

O mestre alfaiate, na prática do corte, rabisca os moldes com leveza e dá às agulhas e tesouras poderes como aqueles que têm as varinhas de condão. Uma peça de tecido vai virar calça, colete e paletó, um terno sempre bem ajustado às medidas do cliente. Nada a ver com roupa feita, adquirida em algum magazine. Essas peças manufaturadas raramente têm ajuste certo, tem-se que alargar aqui, apertar ali, encurtar a barra lá embaixo.

Assim há o mestre capoeirista e pernada é com ele mesmo, temos o mestre barqueiro que não deixa a embarcação adornar e por aí vai. Lembram-se do mestre Zagalo que trouxe quatro Copas para nós.

Dificilmente encontraremos uma atividade de existência notória que não tenha seus mestres. Hoje quero dedicar “essas mal traçadas linhas” a um mestre em uma arte que me fascina, a arte de criar um dito, uma citação, uma frase e que tenha o viés do bom humor. Ah, como admiro essa capacidade.

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Barão de Itararé
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Winston Churchill

Lá na metade do século passado, tivemos o Aparício Torelly, um gaúcho que atribuiu a si mesmo o título de Barão de Itararé. Mais lá atrás nos tempos, o irlandês Oscar Wilde, outro mestre na construção de frases. Há outros mestres frasistas, principalmente na política, como o britânico Winston Churchill e o nosso presidente-sorriso Juscelino Kubitschek. Mas ao meu ver, ninguém como os dois citados inicialmente. Bem, quase isso, porque temos um virtuose nessa atividade por aqui nessas latitudes, o mestre Chico.

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E de onde me veio tal lembrança, ou se preferirem, essa constatação? Vou contar.

Ajeitando livros pelas estantes, me deparo com um de crônicas, edição de 1992: “Astronauta sem luar”, autoria de um dos Chicos que conheço por essas bandas, no caso, o Viana. Essa obra foi presente da falecida professora Rivaldete que recomendou-me a leitura. Cumpri o prometido já faz um bom tempo. Ontem o reabri e me deparei com algumas preciosidades do humor sutil daqueles ditos que encontrei. Sem a vênia do autor que dias atrás viu a Terra completar mais uma volta em torno do Sol, vou citar algumas.

Vá eu dizer que há muita gente feia nesse mundo e irão cair de pau em minha cabeça, mas mestre Chico diz o mesmo com sutileza. Olhem:

“Observando a criação, a gente conclui que Deus pode ser perfeito mas não é perfeccionista”.
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Chico Viana
As mazelas e outros entraves do dia-a-dia estão no repertório. Vejamos alguns:

“O que o dinheiro não fizer, a falta de dinheiro faz”.
“Quem empresta aos pobres, dá adeus”.
“Não tinha ambição. E o que mais queria na vida era que as pessoas notassem isso”.
“O pior de esperar é que demora”.
“Quem espera sempre é alcançado”.
“Para certas mulheres, cirurgião plástico é que é o amigo do peito”.
“Pensando bem, não existe mal da idade. O mal é a idade”.
“Em política, importante não é que se prega, mas o que se emprega”.
“Na democracia, o cidadão tem o direito de ir e vir. Na ditadura, só vai”.
“Há segredos que nos guardam”.
“Homens há que têm muitas luzes mas pouca voltagem”.
“Tem gente que fala bem e se cala melhor”.
“Moderado alcoólico é o sujeito que toma umas e recusa as outras”.
“O problema do método de beber que ele só funciona, no máximo, até a terceira dose”.
“Escrevia para a posteridade. E nem sabia se ela estava interessada”.
“O Sol nasceu para todos. A sombra (e água fresca) só para alguns”.
Foram algumas das que selecionei. Há outras no livro, muitas outras e de igual sutileza.

Por falar em mestre Chico, a despeito de doutor em Ciência da Literatura, é mestre na arte de construir frases adornadas de sutilezas e bom humor. Faz meses que não vejo esse Chico, anda meio desaparecido. E por isso vou aqui modestamente também construindo (ou destruindo) um provérbio: “Quem é vivo sempre desaparece”. Não é verdade, mestre Chico?

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  1. Assino em baixo, Paiva. Nosso Chico Viana é um mestre completo, mais que doutor. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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