Tempo. Será ele igual para a mente, o corpo e a alma? E para os jovens? Os velhos? Evidentemente, não. Podemos dividir o tempo em três categorias básicas: físico, mental e espiritual. O físico corresponde ao tempo do relógio, também chamado de cronológico, Cronos, tempo que nos envelhece, que mata o corpo, coloca-nos rugas, tira-nos o vigor físico.
O tempo mental é aquele em que a mente absorve a aprendizagem pragmática, motora, e que pelo seu desgaste nos ausenta das lembranças, tira de ordem a cronologia psicológica. E o espiritual está intimamente ligado à evolução das emoções, do caráter e do situar-se no mundo como pessoa. A pessoa, diferentemente do indivíduo, é aquela que dispõe de si e dispõe-se para o outro. Nascemos indivíduos e, ao longo da vida, vamos nos tornando pessoa. Esse tempo pode ser caracterizado como o Kairós, que é o que não tem hora para acontecer, transcende os ponteiros do relógio. A ação propriamente dita já encerrou, mas continua acontecendo dentro de nós. O exemplo mais claro é a saudade.
Nós passamos pelo tempo ou o tempo passa por nós? Sabemos que o tempo físico é intransponível, mesmo com tantas “plásticas”, intervenções cirúrgicas. Já o tempo psicológico, mental, espiritual é flexível, embora nos custe uma vida inteira e, às vezes, nem ela toda é suficiente para aprendermos a nos dar com essa modalidade. Plásticas da alma é o procedimento mais complexo que o ser humano encontra na sua existência. É a impotência que por vezes nos domina e nos põe indagações: O que fiz da minha vida? Consegui realizar meus sonhos? Fui feliz? Fui o ser humano que poderia ter sido?
A inaptidão de transpor os limites da materialidade nos coloca dentro do relógio. Essa vida imediata, metódica, gera uma falsa segurança de que, através da medição e pelo rigor nos cumprimentos dos horários, teremos controle da nossa existência. Nascemos, na infância temos a permissão de brincar, afinal é tempo de diversão. Depois vem o compromisso com a aprendizagem escolar – hora de ler e escrever. O fato é: tudo que foge da urgência das horas é considerado anômalo, pois o tempo é o grande mediador. Entretanto, percebe-se que, ao mesmo tempo em que ele nos limita, nos proporciona possibilidades, como a conscientização da nossa finitude. Assim, rememora que devemos aproveitar ao máximo e estabelecer prioridades. O que nesta vida é essencial? Uma pessoa madura sabe. Atender ao necessário antes da despedida. Desejo e recompensa aliando-se.
Não acredito que uma vida sem renúncias tenha mérito. Sabedoria é desfazer as ilusões e alimentar a esperança. Contemplar e analisar. Sem vislumbre. Sem luz ofuscante. Vida-década-ano-semestre-mês-dia-hora-minuto-segundo. Ainda é tempo. Há tempos...