Mãe, tu já notaste como as lojas e empórios estão cobertos de preços e promoções especiais?
Já percebestes como se anunciam produtos e mais produtos, dos mais variados, os mais exóticos tentando o encantamento de milhões de filhos, como eu, para que possamos comprar o teu sorriso?
Já percebestes como, muitas vezes, nós te maltratamos todos os dias, para, em um único dia, procurarmos a remissão ofertando um embrulho, que custou, por exemplo, meio dia de trabalho?
Tu te lembras como sofrestes para carregar aquele ente nove meses, sentindo as primeiras palpitações, amargurando as primeiras pontadas, desmanchando-se em sorrisos molhados ?
Tu te recordas como fomos traquinas, às vezes mesmo perversos, rebeldes, como esquecemos tuas lições, como apanhamos as primeiras dores do mundo, como voltamos ainda com orgulho ferido?
Relembrar como sacrificaste muito de teus momentos, para sofrer junto, como renunciaste tuas emoções para amargar junto às nossas emoções, como te deste, mesmo que pouco, muito pouco, ou até nada tivesse em troca? E que ainda assim, teu coração ainda cabia mais amor...
Tu não te lembras, não te recordas, não relembras, porque és feita de infinito tecido de amor e renúncia. Tu só queres lembrar que estiveste feliz porque nos colocastes no mundo. Nos deste o sublime sopro da vida. Tu esquecestes facilmente todas as ingratidões, todas as desfeitas por que és feita de infinito tecido de amor...
Então, depois de tudo, tu achas que possamos te comprar um riso com um pacote bonito oco de sentimentos? Tu vestirás o rosto do mais terno riso, nós sabemos, porque para ti, tudo pode recomeçar hoje, tudo pode melhorar a partir de um gesto vazio, porque estás cheia de vida e de esperanças, sempre estiveste…
E porque sou filho, e sempre serei e não te tenho mais é que, hoje, choro e não te dou um presente porque aqui não estás hoje para receber, porque te perdi, e órfão, não te perdoo a distância, e, ainda assim, ainda me perdoarás, porque és feita do infinito tecido de amor...
E porque todos os dias são teus dias, e apenas hoje que dedicamos os melhores e mais ternos risos, a que é mãe, onde estiveres.