Em 1864 o General Melgarejo derrubou o Presidente da Bolívia, José Maria de Achá. Pouco tempo depois o ex-Presidente Belzú, que por sua vez havia sido derrubado por Achá e estava exilado na Europa decidiu voltar ao país.
Melgarejo mandou levá-lo ao palácio e lá deu-lhe dois tiros à queima roupa. Arrastou o corpo até a sacada e apoiou-se por trás do cadáver de modo que a multidão lá na praça pensou que Belzú havia retomado o poder e haja vivas ao ex-presidente. Eis que quando Melgarejo soltou o corpo e apareceu na mesma sacada, imediatamente a multidão passou a dar vivas a Melgarejo, que em seguida promulgou uma Constituição dando-se poderes para perseguir e matar opositores.
É pouco? É.
O tal do Melgarejo era admirador da França embora sequer conseguisse localizar Paris no mapa. Quando soube que a Prússia havia invadido a França, pegou ar. Para ele a Bolívia tinha o dever de salvar a civilização francesa. Convocou seus Generais para prepararem o envio de tropas à Europa. Um General ousou dizer que levaria muito tempo porque partiriam do oceano Pacífico em direção ao Atlântico. "Deixe de ser bobo, vamos pegar um atalho", retorquiu Melgarejo. E partiu para a guerra, deixando no governo sua esposa (essa é uma outra história incrível, porém cadê espaço?).
Enquanto montava a estratégia, descobriu que tinha 3 mil soldados, porém apenas 3 navios, nos quais só cabiam 600 pessoas. Problema nenhum, pensou ele. Reconfigurou os planos, decidiu embarcar pelo Atlântico, e alugar outros tantos navios. Planejou atravessar o Brasil pela Amazônia, porém pouco antes de sair do território boliviano soube que seu ídolo Napoleão III havia sido capturado pelos alemães e assinado a rendição.
O pior da notícia: foi informado da neutralidade assumida pela Grã-Bretanha. A Rainha Vitória negara-se a ajudar os franceses. O homem ficou furioso e declarou guerra aos ingleses, expulsando o embaixador inglês que foi em lombo de burro até Buenos Aires de onde embarcou para dar as noticias à rainha.
Vitória ficou possessa e disse que mandaria seus navios bombardearem a Bolívia. Porém, alertada pelo embaixador que a capital La Paz estava longe do litoral e a 3.600 metros de altitude, impossibilitando o bombardeio, a rainha Vitória tomou de tinta preta, dirigiu-se ao mapa e riscou a parte onde estava a Bolívia, esbravejando: “— A Bolívia não existe”.
Ao voltar a La Paz, o General descobriu que sua bela esposa fugira para Lima com toda a grana que ele havia roubado. Logo depois foi deposto e seguiu para o exílio onde sua esposa solenemente o ignorou e posteriormente seu ex-cunhado o matou a tiros.
Este é apenas um dos muitos momentos capturados por Ariel Palácios no excelente livro “América Latina, lado B”, onde nosso continente não cansa de passar vergonha.