No facebook, o Carlos Gláucio Sabino de Farias - que foi colega meu de Banco do Brasil - discordou dos lances que eu acabara de postar como absurdos bíblicos. Respondi que discordava dele, mas... tudo bem, disse-lhe, "lutarei até a morte pelo direito que tens de discordar" - como afirmara Voltaire, ... e continuamos amigos.
Isso me lembrou a manchete do Jornal do Brasil em matéria de José Nêumanne Pinto, de 1979, sobre a Cantata pra Alagamar : O BISPO, O JUDEU E O ATEU, achado que ele pescara na apresentação da obra, feita por Dom José Maria Pires, na noite de estréia da partitura do maestro José Alberto Kaplan, versos meus, na capela da Ordem Terceira da Igreja de São Francisco, onde o arcebispo ressaltara a importância do movimento pela reforma agrária daquele latifúndio, tanta, que juntara, ali, o arcebispo mineiro, o maestro Kaplan, judeu argentino, e eu, paulista que ele dera como ateu, porque eu lançava, naquele mesmo ano, pela Ática, de São Paulo, meu romance "A Verdadeira Estória de Jesus", em que os quatro hipotéticos evangelistas criavam o messias. Não tive como contestá-lo, dizendo-me não ateu, mas alguém que não crê no deus tribal dos judeus, criado para afirmar que Israel é seu primogênito.
Mas tudo bem. O pai do Sílvio Osias, que conheci como ateu, foi alguém excepcional e,
bem:
Dom José foi um homem excepcional. Kaplan, outro. Como excepcional é o Germano Romero - espírita, grande arquiteto, excelente cronista da música erudita - que frequentemente publica minhas crônicas e relatos em seu espaço nobre, na Internet.
Excepcional é o próprio Carlos Gláucio, protestante, que - quando político - teve meu voto. Jamais me senti deslocado fazendo, nas semanas santas de três anos, no começo do século e milênio, o Pilatos do grande espetáculo que foi o Auto de Deus, do Everaldo Vasconcelos, em que o representante de Roma tenta salvar o Cristo da cruz.
Não pensei duas vezes ao aceitar o convite da professora Ilza Nogueira para escrever os versos de seu monumental Oratório Via-Sacra, em 2005, apresentado na belíssima Igreja de São Francisco, coro e sinfônica sob regência do mesmo maestro Carlos Anísio, que está, agora, remontando a cantata.
Estamos, todos, nos esforçando para sermos - cada um à própria maneira - o ser humano o mais perfeito possível, como acha que ele deva ser.