O poeta e estadista alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) escreveu o poema Prometheus (1776), que aborda de forma irônica ...

Estética do cuidar de si

prometeu fogo mitologia filosofia
O poeta e estadista alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) escreveu o poema Prometheus (1776), que aborda de forma irônica a relação dos seres humanos com o deus grego Zeus: "Devo honrar-te? Porquê? Alivias o fardo dos oprimidos? Enxugas, por acaso, a lágrima dos tristes?". Desse modo, Goethe destaca a tendência natural do ser humano à rebeldia. Esse conflito se intensifica na busca pela autonomia e liberdade pessoal. Em sua poesia Limite da Humanidade, o pensador reconhece a limitação dos humanos em cuidar de si mesmos e admira a divindade: "O que torna os deuses diferentes dos homens? Muitas ondas. Surgem diante das que partem uma corrente eterna: a onda nos ergue, a onda nos engole e naufragamos".
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Por meio desses versos, Goethe ressalta a autodeterminação como uma força inerente a cada ser humano.

Na mitologia grega, o humano semideus Prometeu, presente na Teogonia entre os versos 507 e 616, datado do século VIII a.C., foi escrito por Hesíodo, poeta grego que viveu por volta de 776 a.C. a 650 a.C. Prometeu é retratado desafiando a autoridade divina e a sabedoria absoluta do deus supremo Zeus. Durante um banquete que visava promover a paz entre mortais e imortais, Prometeu propôs um desafio a Zeus. Ao final da competição, o semideus conseguiu que os humanos recebessem a carne dos animais sacrificados, enquanto os deuses ficariam apenas com os ossos cobertos de gordura. O resultado enfureceu Zeus, que, em retaliação, privou os seres humanos do "fogo", simbolizando a sua capacidade racional. Assim sendo, Prometeu, dotado de muita inteligência, subtraiu esse "fogo" do supremo deus e o restituiu à humanidade, desagradando ainda mais a divindade. Como consequência de sua ação, o sábio foi amarrado a uma rocha por ordem de Zeus, tendo o fígado de Prometeu devorado por uma águia durante as noites, com o intuito de causar-lhe sofrimento e regeneração. Após algum tempo, surgiu o herói da mitologia grega Hércules, que abateu a águia e libertou Prometeu de suas amarras. A metáfora evidencia um ser humano desafiando um deus, acarretando a ira contra a razão humana. Consequentemente, os mortais precisam manter a
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G. Assereto, S.XVII
resiliência para enfrentar a má sorte do destino e lidar com a dor da existência, confiantes de que a liberdade virá através da compaixão alheia para se libertarem de uma maldição. Prometeu simboliza a vontade humana, e a obtenção do "fogo" representa a busca pelo conhecimento através da ciência. Assim, é possível livrar-se da fúria de um deus cruel através da solidariedade humana.

Para compreender a importância de viver com dignidade, é necessário adotar uma nova perspectiva em relação à resiliência. O filósofo Michel Foucault, que viveu de 1926 a 1984, abordava a vida humana de forma ampla, indo além da conformidade às normas para priorizar uma estética de existência. Em sua obra intitulada Sobre a Genealogia da Ética (1994), ele questiona a existência de princípios éticos universais, afirmando que as pessoas devem se reinventar como se fossem obras de arte. Segundo Foucault, a criatividade não deve ser encarada apenas como uma atividade externa, mas sim como algo intrínseco à relação interpessoal.

Segundo Foucault, a história não revela a essência de alguém nem sua identidade de forma definitiva. Ao contrário, ela distingue e separa as pessoas umas das outras. Nesse sentido, reconhece-se a importância de estabelecer uma conexão do indivíduo consigo mesmo, levando-o a explorar a ideia de subjetivação e os diferentes tipos de poder que regem a relação entre o sistema institucional e o indivíduo. Isso, por sua vez, dá origem aos diversos
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F. Fuger, 1817
conhecimentos e à noção de conhecimento-poder, moldando o indivíduo por meio de suas ações, maneiras de ser e potencialidades de autodesejo e autocuidado. De acordo com o pensador em seu livro As Palavras e as Coisas (1966), a humanidade constantemente se dissolve diante de si mesma, e a base ética é fluida, não sendo atrelada a uma racionalidade específica. Em sua obra Tecnologia do Eu (1982), ele explora a ideia de que os seres humanos devem desejar a perfeição e a felicidade a partir de si mesmos. Destaca ainda que o sujeito ético se constrói através da liberdade de moldar a própria vida como uma obra de arte, assumindo o controle de si e estabelecendo uma relação estética tanto consigo quanto com os demais.

Foucault fundamenta o conceito do Cuidado de Si por meio do livro Alcibíades do filósofo grego Platão (428/427 a.C. - 348/347 a.C.). Na tradição estoica, o sujeito a partir de si busca adquirir a verdade que dá acesso à realidade do mundo, e a ascese - que é uma atividade que desenvolve o controlo do corpo e do espírito - é elevada a um lugar interno que dá origem a relação estética consigo mesmo, também com os outros e com a verdade, vivenciando à liberdade.

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