Deixei minha amada terra Brasil, e cá estou, pouco mais de um ano, em solo lusitano. Tive razões para a mudança – como alguns amigos sabem. E residir aqui, milhares de quilómetros de distância, me veio logo a cabeça as nossas semelhanças com o belo País, e claro, poder assim manter um “gostinho de casa”, a começar pelo idioma.
Entretanto, o primeiro impacto, foi constatar que, quase todos os portugueses também falam o inglês! Somados aos inúmeros britânicos residentes, comunicando-se habitualmente na língua nativa, se tem a impressão de que adotaram o bendito idioma extraoficialmente.
E para mim, que nunca enrolei a língua para além do “I love you” e mais uma ou duas palavras que aprendi naqueles filmes proibidos a menores de vinte e um, tornou-se um grande desafio.
De cara, a língua já me fez andar pisando em ovos! E se não bastasse, o português de Portugal, tem para lá da “rapariga” outras de suas interpretações e significados que afirmam ser a versão correta. E nem se questione! – é deitar o verbo fora.
Portanto, adequar a audição e mudar conceitos, foi outro dilema.
- A rapariga é de que zona? Perguntou o gajo à frente da bicha.
Olhei para um lado, para o outro, e de início pensei ter feito confusão nos ouvidos. Repetidas vezes depois, o inequívoco da pergunta, ainda despertava em mim o ímpeto de lhe mandar “fazer um bico”!
- Como pode! Nem conheço este filho de rapariga! Que falta de respeito! Será que me trata assim por ser brasileira? – Pensei.
Só bem mais tarde amaciei a rapariga dentro de mim. Afinal é mesmo como chamar as nossas moças no Brasil. Agora, “zona” não me apetece ainda. Preciso de mais tempo para desmistificar o sentido e fazer valer o pai dos burros.
E pensa que meu problema com a linguagem termina por aí? Pois!
Agora mudei para uma zona – no sentido português de Portugal, a 8 km do centro de Lisboa, identificado como Reboleira – Amadora.
- Tas a ver?
Fico imaginando um puto brasileiro, recém-chegado, ouvindo uma conversa desta:
- A rapariga é de que zona?
- Reboleira/ Amadora.
- E como vai?
- Vou bem.
- COMO VAI PARA A ZONA, RAPARIGA? DE AUTOCARRO OU METRO?
…
E nem lhes conto o resto!
Se precisar tomar uma injeção nas nádegas, garanto que para os brasileiros a expressão dói muito mais.