A identidade é o senso de pertencimento no espaço social, na cultura, no idioma, na ancestralidade e em tudo onde uma pessoa está i...

Crises de identidades

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A identidade é o senso de pertencimento no espaço social, na cultura, no idioma, na ancestralidade e em tudo onde uma pessoa está inserida. Existem cidadãos em situações sociais de invisibilidade geradas pelas relações interpessoais ou socioeconômicas, as quais são resultados de preconceitos, discriminações e desigualdades estruturais. Por exemplo: segregação social; etnia; status socioeconômico; religião; sexualidade; comunidades indígenas. Stuart Hall (1932 - 2014), sociólogo britânico-jamaicano, em suas obras Identidade e diferença:
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V. Bomstad
A perspectiva dos estudos culturais (2005) e A identidade cultural na era pós-moderna (1992), aponta para uma crise das “antigas identidades”. De acordo com o autor, essas identificações estão sendo deslocadas ou fragmentadas pelas mudanças das estruturas identitárias como novas projeções simbólicas das sociedades contemporâneas. Esse fenômeno é impulsionado pela descentralização dos indivíduos de seus comportamentos, dos perfis profissionais, de suas funções culturais e das próprias personalidades. Numa obra citada, o pensador afirma: “[...] para aqueles teóricos que acreditam que as identidades modernas estão entrando em colapso, [...] tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século 20. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. As transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Essa perda de um “sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento [...] constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo (HALL, 2005, p. 9).

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M. Pashkova
Grande parte das crises de identidade tem sua origem nas transformações provocadas pela globalização e pela migração, principalmente envolvendo os países e ideologias das décadas de 1970 e 1980, que causaram instabilidade e criaram rupturas no sentimento de pertencimento. Como consequência, surgiram novas reivindicações étnicas, religiosas e nacionais que resultaram em conflitos. Atualmente, observa-se uma competição entre diferentes pontos de vista críticos, intensificando a tensão de uma crise global neste século.

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Cottonbro
As ideias de um mundo global surgiram de forma mais intensa a partir da década de 1980. Sua primeira expressão pode ser encontrada na obra Guerra e Paz na Aldeia Global (1968), escrita pelo filósofo e teórico canadense da comunicação Herbert Marshall McLuhan (1911-1980). Ele antecipou o impacto da Internet na vida de todos os cidadãos, mesmo antes de sua invenção, e criou o termo "aldeia global". Por sua vez, o livro A Revolução Tecnotrônica (1968), escrito pelo cientista político, geopolítico e estadista polonês Zbigniew Brzezinski (1928-2017), aborda as transformações que ocorrem na sociedade por meio da ciência exata, humana, tecnologia e inovação, impactando os métodos de produção, comunicação, transporte, consumo e cultura de um determinado período.

Boaventura de Sousa Santos, nascido em 1940 em Portugal e ocupante de uma cadeira de professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, versa em suas obras publicadas temas como globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia, direitos humanos, sociologia das ausências, ecologia de saberes, o epistemicídio, a interlegalidade, o Estado heterogéneo, a razão indolente, a razão metonímica, o fascismo social, sociologia das emergências, o pensamento superficial e sua superação. Ele argumenta que a crise de identidade atual foi gerada pelo
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S. Nadin
modelo de racionalidade da ciência moderna, que teve início na revolução científica do século 16 e se estendeu ao longo dos séculos seguintes com a supremacia das ciências naturais sobre as demais áreas do conhecimento. O pensador considera que o instrumentalismo científico e o determinismo, isto é, os fatos que acontecem no presente são determinados por causas anteriores, têm contribuído para reduzir as colisões das várias interpretações sociais, econômicas, ecológicas e existenciais, minimizando as incertezas de conceitos teóricos. Diante disso, a ciência atual dispõe de princípios teóricos e metodológicos que permitem investigar questões relacionadas à cultura, etnia e nação, considerando a complexidade das crises de identidade, a percepção de gênero e os deslocamentos culturais.

A globalização é um fenômeno amplificado e radicalizado nas últimas décadas. O seu impacto está destruindo várias “identidades tradicionais” e “culturas inflexíveis”. A sua força coercitiva impulsiona novas reavaliações conceituais sobre o sentido de existência nas pessoas. Diante dessa crise, as Ciências Humanas buscam construir uma teoria para compreender as tensas manifestações e as tendências da sociedade atual, seja regional ou nacional, especialmente aquelas enraizadas à unidade do Estado ou nação, frente à ascendência e ao progresso da “aldeia global”. A sociedade nacional mantém sua relevância,
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Deklanşör
porém se vê contraditoriamente imersa nos desdobramentos e nas dinâmicas da globalização.

Os impactos da globalização na produção de conhecimento nas Ciências Sociais apresentam o desafio de lidar com a individualização, a qual é o resultado da noção de identidade e da liberdade individual. Esses fenômenos são controlados pela alienação provocada por uma força que busca diminuir o outro ou grupos. Os efeitos desumanos das crises de identidades devem ser examinados mantendo a prática da tolerância, da diversidade e à equidade, dando às pessoas o que precisam para que todos tenham acesso as mesmas oportunidades para construir a própria dignidade e o respeito a todos.

Octavio Ianni (1926 - 2004), sociólogo e professor brasileiro, em seu livro Globalização: novo paradigma das ciências sociais (1994), na página 149, afirma que as Ciências Sociais estão estudando não apenas a sociedade nacional em sua totalidade e em suas partes, mas também a “sociedade global”, tanto como um todo quanto em partes distintas. Ianni destaca que a “aldeia global” ainda está sendo formada e apresenta novos conceitos, categorias e interpretações adequados.

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