Você é aquilo que consome e por isso é seu próprio fandom (fã-clube)”, assim escreveu a escritora Claire Dederer que publicou o livro Monster: A fan's Dilema, que trata da busca pessoal para lidar com a intersecção de critérios morais e estéticos na apreciação de uma obra.
A indústria cultural, sem qualquer consideração ética, explora artistas e trata suas criações, igual a comodities, e mantém os autores sob controle de sua própria demanda. Tudo isso acontece porque não há uma regra de proteção da moral e dos direitos, onde se possa encontrar equilíbrio entre virtude e apreciação estética.
É quase como ser desumano em estudar a humanidade e suas criações, agindo com esforço imaginativo em conceber uma posição para um espectador não humano.
Muito similar com o que aconteceu à cultura underground nos anos 1960, que foi sufocada, como indicam as experiências de exílio em razão da truculência do regime militar.
Dizendo de outra forma, como vamos encarar a arte que em determinado momento amamos, feita por homens e mulheres responsáveis por coisas horríveis e moralmente reprováveis, construídas ao longo de suas vidas, e que num instante vem à luz da sociedade seus péssimos atos contra o próximo?
É nesse hiato que a denominação Monstro passa a ser o novo conceito sobre esse indivíduo, em função de seu comportamento indesejável, confundindo nossa capacidade de manter valorizando sua obra e história pregressas.
Como aconteceu com Roman Polansky condenado por estupro de uma criança aos 13 anos. E o ator José Dumont condenado por armazenar vídeos e fotos de pornografia infantil.
Nenhum dos dois refletiu sobre seu memento mori, expressão em latim que nos faz refletir sobre o valor da vida, pois, a única verdade que possuímos ao nascer é que vamos morrer, e pensar sobre a morte nos traz a certeza de que cada segundo de sua existência deve ser aproveitado ao máximo, ou seja, o tempo é precioso demais para ser desperdiçado com banalidades, reclamações infundadas, fofocas, atitudes mal pensadas e pessimismo.
Belos nomes que desfilaram a arte de viver, como a negra Ada Smith, que tingia os cabelos de cor laranja e animava o cabaré Bricktop's localizado na Paris dos anos 1917, se dedicaram tão bem ao outro. Foi cantora, dançarina e cheia de entusiasmo, sabia o nome de seus clientes mais fiéis e tinha em sua banda Louis Armstrong dentre outros mestres admiráveis reinando nos cafés franceses, sem medo de ser feliz.