Um grande jornal publica uma matéria de página inteira, com dois artigos, sobre a situação da educação. O título da matéria é “Formação...

A farsa dos discursos

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Um grande jornal publica uma matéria de página inteira, com dois artigos, sobre a situação da educação. O título da matéria é “Formação dos professores: imprecisões persistentes”, tendo como subtítulo “Uma remuneração mais baixa do que a anunciada pelo Presidente levanta novas críticas”. Além da matéria com chamadas críticas a uma situação não menos crítica, há uma charge ótima, mostrando dois personagens, deliberadamente desenhados pequenos, na amplidão do majestoso espaço dos gabinetes de palácio. Um homem e uma mulher. A mulher, que está com a palavra, dirige-se a um homem com as mãos para trás, em atitude desalentadora, para dizer o óbvio, que ninguém consegue ver: “O mais incrível em tudo isso é que ainda há universitários para crer que nossos anúncios serão seguidos por atos”, com ênfase no advérbio ainda.

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Le Monde
Os artigos são assinados por dois jornalistas, que fazem severas críticas às decisões governamentais, mas nem eles, nem o jornal sofrerão sanções ou serão acusados pelo papagueamento das fake News, pelo fato de que o jornal é o Le Monde, o presidente criticado é Emmanuel Macron e o país, obviamente, é a França, que respeita a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. O presidente que se vire para mostrar, com provas e argumentos convincentes a uma população letrada, que aquilo que dizem os artigos não correspondem aos fatos. Mas ele não fará isso, porque são encargos da alçada da ministra da Educação Nacional, Nicole Belloubet, acossada pela cobrança dos professores e dos sindicatos. A ministra é, muito provavelmente, a mulher que aparece na charge,
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acompanhada do homem desalentado, talvez o próprio Macron. A charge é um chute na canela.

Qual o teor da matéria de hoje, dia 08 de maio de 2024, na página 13 de Le Monde? São as propostas pífias apresentadas à classe do Magistério, muito diferentes daquelas proferidas em discursos para seduzir os tolos: promover e incentivar a profissão de professor. Na realidade o que se tem à mesa é a diminuição do tempo de formação do professor, que passa de 5 para 3 anos, de modo que ele possa se submeter a um concurso; salário irrisório de 1400 Euros, mas recebendo, como salário líquido, apenas 900, com a promessa de depois passar a 1800 euros, sujeitos, obviamente, aos mesmos descontos. A insatisfação é gritante porque o recebido efetivamente pelo professor é menor do que o salário do imigrante, o smic, e não corresponde aos investimentos feitos na profissão. Tal situação gera instabilidade na profissão, os professores precisam de um segundo emprego para poder sobreviver e, acima de tudo, torna-se um estímulo ao abandono da carreira, em busca de alguma outra que lhes garanta o sustento.

É claro que o impacto desses discursos governamentais desacompanhados de ações é muito grave, embora muitos néscios acreditem nele, principalmente quem não sabe o que é educação e se mete a discuti-la ou colocá-la nas mãos de incompetentes.
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Ressalte-se que a instrução pública regular na França remonta ao final do século XVIII e o ensino obrigatório ao século XIX. Além disso, as escolas são de tempo integral, realmente, contando com toda a estrutura, de modo a atender os alunos entre 08h30 e 16h30. Muito diferente da farsa educacional do Brasil, produto dos farsescos discursos políticos.

Diante de uma situação como essa da França, vemos como o Brasil encontra-se muito aquém do necessário para poder avançar. Sem existir um Plano Nacional de Educação, como prioridade, é inútil ficar confiando em discursos desarticulados de ações efetivas, o que nos leva à estagnação e ao atraso. Há muito que passei a acreditar que a intenção é exatamente esta.

Gostaria muito de que houvesse um debate sério, em que argumentos fossem levantados, distantes, muito distantes de partidarismos ou de elogios ou insultos a este ou àquele mandatário. Debates com quem conhece o assunto por dentro, professores e professores em sala de aula, sobretudo. Não sendo assim, o que faremos será apenas insistir na inocuidade do bater boca.

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  1. Anônimo9/5/24 07:05

    Perfeito, Milton. Mas, como você, tenho poucas esperanças nessa área. Aliás, pensando bem, tenho poucas esperanças em todas as áreas. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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