Conheci Marly de Oliveira através de Clarice Lispector, mais especificamente, com a leitura do livro “Entrevistas”, da C.L. Mas, quem...

A explicação de Marly

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Conheci Marly de Oliveira através de Clarice Lispector, mais especificamente, com a leitura do livro “Entrevistas”, da C.L. Mas, quem foi Marly? Antes de tudo: uma poeta que começou suas publicações muito jovem, no final da década de 1950, também foi professora de língua e literatura italianas e de literatura hispano-americana, na PUC, na Faculdade Católica de Petrópolis e na Faculdade Católica de Friburgo, além de tradutora. Pertenceu à Academia Brasiliense de Letras.
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Marly OliveiraAcervo Fam. M.O
Seus escritos despertaram o interesse de figuras, como Alceu Amoroso Lima, Walmir Ayala, José Guilherme Merquior, Antônio Houaiss e João Cabral de Melo Neto, esse último tornou-se seu marido, mais tarde, depois que ela se separou do diplomata Lauro Moreira. Foi vencedora do Prêmio Jabuti em 1998, com o livro “Mar de Permeio”.

O primeiro contato com a poesia de Marly deixou-me em êxtase. Numa tentativa de definir o que é o amor, ela escreveu: “Uma gema que fosse todo fria,/ mas na aparência, e toda quente por dentro/ e que tivesse a lisa superfície/ do que se usa com grande atrevimento,/ mas no íntimo; uma gema toda calma [...]”. Quem imaginaria que o amor pudesse ser comparado a uma gema? Gema fria, com uma “carcaça”, que nos ludibriasse no seu aspecto, mas intimamente possuindo uma leveza, uma parcimônia, ao mesmo tempo que audaz. Amor como um estado de controvérsia entre o exterior e o interior. Amor = ternura, quietude com ventura, mas apenas aparentemente.

A poética de Marly é polifônica, vai das vozes brasileiras, da geração de 30 e 45, como Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Jorge de Lima, até poetas estrangeiros, como Mallarmé. Mas essa poeta multiforme soube ser ela mesma, com sua poesia densa, reflexiva, sonora e rítmica, muitas vezes fazendo uso de versos decassílabos.

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Nélida Piñon, Clarice Lispector e Marly Oliveira Facebook
José Nêumanne Pinto incluiu alguns de seus poemas em “Os cem melhores poetas brasileiros do século”, mas lamento que os livros da Marly de Oliveira (cerca de 15) não sejam mais editados. Qual será o motivo? Mercado editorial? Familiares? Direitos autorais?

Marly de Oliveira era natural do Espírito Santo, faleceu em 1º de junho de 2007. É cedo para dizer qual será o rumo da sua obra? Não sei, por ora, é possível adquirir alguns dos seus livros em sebos. Recomendo-os, pois, como diria a poetisa: “a poesia é uma forma/ de compromisso com o ser .../ ler é uma forma de enredar-se”.

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  1. Um oportuno resgate, Leo. No Brasil, existem muitos escritores necessitados de resgate, muita gente boa precisando ser lembrada e, principalmente, reeditada. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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  2. Flávio Ramalho de Brito22/5/24 14:39

    Muito bom. Alguns vinculam o decréscimo da produção poética de Marly ao seu casamento com João Cabral. O assunto foi abordado aqui por Francisco Gil Messias.

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