Hoje trago para vocês um pouco da minha leitura sobre o novo livro do escritor Helder Moura - A INSANA LUCIDEZ DO SER - uma fábula.
Apesar de já ter feito anotações sobre todos os instantes do livro, coloco aqui apenas até a página 28. Em outras oportunidades farei as demais.
Apesar de já ter feito anotações sobre todos os instantes do livro, coloco aqui apenas até a página 28. Em outras oportunidades farei as demais.
O livro inicia, já na dedicatória, com uma provocação sobre a insanidade da lucidez.
No prefácio o Professor Chico Viana fala que a “culpa é um forte componente de sua narrativa”, deixando o leitor ainda mais curioso sobre a “crise do ser” , que vivendo uma “utopia” gratificante e isoladora promove se encontra solitário ao ponto de cometer suicídio.
No primeiro dia nessa “insana lucidez do ser”, Helder, nos mostra como o acordar para o mais oculto que carregamos dói. Explode a sensação de se perder em si mesmo. De ir contra a “verdade” construída.
A Segunda-feira sempre é tida como o dia mais difícil, aquele que se sai da zona de conforto, que se faz necessário o assumir, retornar, fazer, refazer, estar, enfrentar os outros e, principalmente, se enfrentar.
Não acordar a alma ou acordar “apenas quando der”, é manter-se inerte para a corresponsabilidade.
O “incômodo” dos pensamentos classificados como “espinhos encravados” irão resistir, existir mesmo se negados.
Cilgin ao explorar suas próprias profundezas, apesar do conhecimento que tem da psicanálise de Freud sobre os sonhos, sofre o tormento das estranhas criaturas submersas e “tragédias pessoais” escondidas e negadas, mesmo depois de serem submetidas a uma auto-adaptação. Afloram, sem terem sido adubadas desarrumando o que parecia uma perfeita “aventura de viver”. Aparecem em forma de sonhos cruéis, pesadelos.
A “outra pessoa” que deseja finalmente ser vista, emerge com o estranhamento de se ouvir, de prestar atenção naquilo que é corriqueiro, porém despercebido, como o bater do próprio coração.
É difícil, e até cruelmente dolorido ouvir “um tipo novo de som” que parece ser seu próprio som, quando ficou tanto tempo desatenciosamente enxergado.
O ápice é atingido no instante que o “apreciar” se torna “uma estranheza crescente”, chegando à “estupefação” por não sentir os outros, as coisas, enfim, nada existe além de si mesmo.
Ao reconhecer que o eterno adiar de assumir aquele agir que feriu ou aquela escolha que causou estragos maiores que realizações, vê que o caminho escolhido está deserto do que deveria existir. Suas ruas estão “assombrosamente vazias”, então se questiona sobre tudo que existia antes.
É difícil acreditar nesse vazio de uma “segunda tão domingo”.
O domingo sempre foi do jogar-se na cama, na rede, na areia da praia, nas águas mornas do não fazer nada que não tivesse vontade, e de não pensar nada além daquilo que lhe dava prazer. Mas se era segunda-feira nada disso era permitido fazer. O encarar a verdadeira força no isolamento, mesmo tendo sido tantas vezes desejado, causa ansiedade.
Bate o coração da sua fraqueza, tantas vezes negada, subjugada. As artificialidades vividas são tão autênticas que “parecem naturais”.
Enfim, nesse seu primeiro dia da “insana lucidez”, Cilgin sente a “inelutável” e inconteste força das “coisas que sempre vêm”.
No segundo dia aparece a certeza que aquilo que aconteceu e foi banido, deixou seu rastro para que fosse encontrado. Uma máquina do tempo o mantém palpitando, vivo. E o que deveria ser apenas uma lembrança paralisa, violenta a vontade de ficar inerte. Precisa seguir mesmo quando o mundo parece “esvaziado de vida”, e mesmo com a “tristeza infinita no olhar” é melhor continuar do que estagnar.
(** Oportunamente trarei meus comentários sobre o 2º até o 7º dia)
Vale a leitura! O livro é incrivelmente rico, intenso e desafiador. O navegar nessa fábula foi uma viagem com tormentas e calmarias, que me fez indescritivelmente mais forte quando me levou aos meus oceanos mais profundos, para descobrir aqueles escondidos espinhos encravados na carcaça da minha alma.
Obrigada querido Helder, por mais essa riqueza. Sei que não foi nada fácil.
Como bem diz nas páginas 34 e 35 “...[...]...se tornar escritor ...[...]...vai precisar abrir suas entranhas, expor suas sendas mais secretas para o mundo. ...[...]... Isso é algo estranhamente doloroso. ...[...]...E sentir a dor do outro, além das próprias, é talvez o masoquismo singular do escritor. ...[...]... Ou não será escritor.”
Sucesso sempre!
Xeronoteucoração!
* 'A insana lucidez do ser', livro de Hélder Moura (Editora Ideia), está disponível na 👉🏽 Livraria do Luiz.