Num distante dia de verão aqui em João Pessoa, Agnaldo Almeida, Lena Guimarães e eu começamos uma luta inglória, fadada a ser levada ao ridículo e ao consequente fracasso. Mas acreditávamos fortemente no nosso propósito, mesmo porque o que pretendíamos seria muito bom para a cidade.
Éramos caminhantes matinais da beira mar do Cabo Branco e identificáramos uma possibilidade de melhorar a situação de todos que se dedicavam ao então chamado cooper. A ideia era interromper o tráfego de automóveis na beira mar por um determinado espaço de tempo de modo que os pedestres pudessem sair das apinhadas calçadas e ter maior folga em seus exercícios usando a avenida. Nosso poder de luta estava no fato de Lena ser editora do Correio da Paraíba e Agnaldo o tampa de Crush do O Norte. Eles aplicaram no caso o bom jornalismo que sempre praticaram. E eu... eu era o doido que provocava os dois para a luta. E que luta.
A divulgação da ideia na imprensa logo despertou a ira dos contrários, principalmente alguns proprietários de hoteis da orla que argumentavam prejuízos enormes a serem auferidos se os seus hóspedes não pudessem entrar com seus veículos nas garagens dos hoteis onde se hospedavam.
Conseguimos a preciosa ajuda do Superintendente do DETRAN que identificou um espaço das 5 às 8 horas da manhã onde o fluxo de veículos era quase zero. Não nos preocupávamos com os moradores da área porque desde o início ficou estabelecido que eles poderiam circular ao redor das quadras onde residiam e ter acesso às suas casas ou ir para outros locais usando a rua de trás.
A Câmara Municipal organizou um debate onde as partes expuseram seus pontos de vista e pouco depois o DETRAN iniciou a interrupção do tráfego no horário que havíamos proposto. Foi “na tora”, se bem que posteriormente surgiu um projeto de lei normatizando o que já existia.
E foi maravilhoso! Até hoje me dá um orgulho enorme ver aquele monte de gente bacana praticando seus exercícios nas manhãs de nossas praias e saber que fui uma formiguinha no contexto.
No entanto, o que mais me alegrou foi ver um folder de propaganda de um dos hoteis localizados à beira mar (cujo proprietário fora o mais radical contra nossa ideia) anunciando que eles dispunham de uma pista pública de prática de exercícios em frente ao estabelecimento.
Surfaram na nossa onda.