Zygmunt Bauman (1925 – 2017) foi sociólogo e filósofo, nasceu na Polônia e exerceu suas atividades acadêmicas no Canadá, Estados Unido...

Modernidade Líquida

zigmund bauman modernidade liquida solida filosofia
Zygmunt Bauman (1925 – 2017) foi sociólogo e filósofo, nasceu na Polônia e exerceu suas atividades acadêmicas no Canadá, Estados Unidos, Austrália e na Grã-Bretanha. Tornou-se professor emérito de Sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. Em seu livro Modernidade líquida (1999), o sociólogo versa que a modernidade líquida é leve e dinâmica e está em oposição à uniformidade da modernidade sólida. Para o pensador, a atual sociedade foi reduzida a valor de consumo por ter um preço materializado pela influência do poder econômico. Por exemplo, o amor, numa cultura da sociedade líquida, é tratado à semelhança de outras mercadorias. Os seus livros mais lidos são: Ética pós-moderna (1993); Medo Líquido (2006); Modernidade e Ambivalência (1991); Vida para o consumo (2008); Tempos líquidos (2006); Vida Líquida (2005), dentre outros.

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O pensamento de Bauman descreve a "modernidade sólida" com estas características: a procura por certezas inquestionáveis; a rigidez das relações sociais; a falta de flexibilidade do pensamento crítico; a valorização da tradição; a confiança nas instituições e a força coercitiva nas relações familiares. A "modernidade líquida" se tornou mais evidente durante a década de 1960 através dos diferentes movimentos sociais que surgiram em diversos países, com o objetivo de questionar as tradições inflexíveis das sociedades conservadoras. Esse intenso processo tem levado ao rompimento dos laços afetivos dentro das famílias, das relações sociais e das instituições, resultando em uma era de incertezas. O individualismo tem colocado em prioridade as conexões subjetivas entre as pessoas, criando novos valores sociais e afetivos de difícil compreensão.

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Zygmunt Bauman
Anders/Infoescola
Nos dias atuais, a oscilação dos valores morais e éticos tem resultado em consumidores compulsivos. Eles determinam os próprios padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social, por meio de suas compras, pagando e trocando afetos por prazeres imediatos. Diante dessa realidade, Bauman substitui o conceito de "relacionamento" pelo termo "conexão", representando o desejo por algo que possa ser acumulado rapidamente e descartado a qualquer momento, de forma superficial. Por exemplo, a amizade e os relacionamentos amorosos são agora substituídos por "conexões" que podem ser rompidas de forma insignificante. O sexo, por sua vez, é reduzido a uma simples busca por prazer, desprovida de responsabilidade e respeito, destruindo a dignidade entre os parceiros. Os medos influenciam atitudes defensivas e agressivas, desgastando o cansaço da rotina diária.

O consumo compulsivo emerge como um fator predominante na era líquida da modernidade. O sentimento de coisificação e de vazio existencial deram origem a um espetáculo que impulsiona o desejo de consumo de forma desenfreada por meio da irracionalidade, permitindo-se ser seduzido pelas marcas, independente do seu custo, com o intuito de
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Ettore DeGrazia
alcançar um status ou uma falsa imagem de si mesmo, transformando-se em algo sem autoestima, sem identidade e sem caráter. Na "modernidade líquida", o indivíduo-coisa é definido pelo que consome, e não mais pelo que realmente é. Para Bauman, o ser humano líquido busca o outro por medo da solidão, mantendo uma distância para mascarar sua insignificância e garantir a experiência de uma liberdade simbólica e ilusória. Um dos sintomas disso é a falsa promessa de felicidade, frequentemente encontrada em ambientes religiosos, o que gera nos indivíduos ansiedade e/ou tristeza. Em sua obra O mal-estar da Pós-Modernidade (1997), Bauman retrata as relações humanas como uma realidade de incerteza e insegurança, resultando no desconforto de pessoas excluídas de sua dignidade humana.

Zygmunt Bauman propõe uma análise da economia de mercado através de dois indivíduos isolados e egocêntricos: o "homo economicus", por ser autoreferente e centrado em si mesmo, que se orienta pela lógica da escolha racional, reconhecendo
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apenas o "homo consumens". Este último é um comprador e sua única terapia é o ato de comprar, a qual comunidade se resume ao aglomerado de consumidores nos shoppings ou na internet. Na modernidade, a pessoa sem qualidades e incapaz de se qualificar, ao se desenvolver ou ser moldada pela sociedade de massa, acaba por se tornar desprovida de laços sociais. Segundo Bauman (2003, p. 90): “Tanto o homo economicus quanto o homo consumens são indivíduos desconectados socialmente, representantes ideais da economia de mercado, sendo eles mesmos apenas ficções”.

As teses baumanianas surgiram diante das incertezas da modernidade quando a estabilidade da tradição começou a desaparecer. As preocupações de Bauman - em relação à economia - destacam as consequências da modernidade líquida e acelerada, em especial no que diz respeito à escassez de tempo para a construção de relações afetivas duradouras e de corresponsabilidade. O pensador realiza
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uma análise da sociedade moderna, considerando os fatores estruturais das relações sociais e incorporando a subjetividade humana ao debater questões como "amar o próximo como a si mesmo" em relação ao "amor-próprio". Ele não aceita os argumentos daqueles que defendem a perda inevitável da dignidade humana, destacando a importância que Bauman dá à preservação da vida e ao bem-estar social, atribuindo tais valores como essenciais a cada indivíduo. É necessário e urgente lembrar que o verdadeiro bem está na liberdade de escolher agir da melhor forma possível, ou seja, fazer o melhor de si, tendo a prioridade de fazer o bem comum a cada pessoa e a coletividade. Para Bauman a liberdade é essencial para a condição humana de pertencimento, a qual promove a felicidade do ser humano ao agir com compaixão na construção da dignidade humana.

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