Uma das minhas antigas quizilas com a crítica literária sempre foi a de não encontrar o cronista Genolino Amado entre os elencados nas...

Lembrando Genolino Amado

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Uma das minhas antigas quizilas com a crítica literária sempre foi a de não encontrar o cronista Genolino Amado entre os elencados nas antologias brasileiras do gênero. O cronista que chegava a nossas páginas para adoçar as noites compridas do revisor, mesmo já iniciado nas “Sombras que Sofrem” de Humberto de Campos, da biblioteca de Alagoa Nova. (Ia dizendo bibliotequinha de Alagoa Nova - que injustiça, que grossa ingratidão!)

Pois bem. Devo a esse cronista sem referência maior na crítica, mesmo na mais criteriosa e isenta de um Afrânio Coutinho, a alternativa da minha preguiçosa dispersão literária. A União de Juarez Batista enxertava esse antigo doce “similares” no pão seco das nossas noites. E nele me adocei até hoje.

Mas onde está Genolino que as artes de um Rubem Braga, de um Sabino, de um Drummond o encobriram?

Não foi só omitido. Numa memória literária, só como exemplo, o grande mestre Álvaro Lins (logo quem, Senhor Deus?!) o descompõe: omite seu nome no texto, limitando-se a chamar o leitor de “Vida Literária” para as inicias G.A. ao pé de página.

Por que isso? Por acaso, procurando outra coisa, dou com Genolino na Enciclopédia Literária do grande Afrânio. Dez linhazinhas somíticas, não mais que referência seca ao jornalista, ensaísta, professor, tradutor e (matando a charada) chefe da Censura Teatral e Cinematográfica de São Paulo, redator-chefe do Departamento de Propaganda do Rio de Janeiro. A crítica não o perdoou.

E baixei a cabeça. Quanta gente boa, eu mesmo escanteei da leitura por uma miséria dessas na biografia, por ideologia! Foi preciso ler “Nordeste”, o poema em prosa de Gilberto Freyre, para adentrar sua “Casa Grande & Senzala”. Seu salazarismo me impedia. Gustavo Corção, um dos escritores mais lidos e influentes, não conseguiu prender-me ao romance que o consagrou, “Lições de abismo”. Seu catolicismo não parecia uma religião, uma doutrina, mas um fanatismo ideológico. E me senti excluído de sua leitura.

Vem o tempo e, nas “Horas de Leitura” de Brito Broca, tocando nos velhos “folhetins” de França Júnior, um dos principais precursores da crônica de costumes, lá vem Genolino Amado como “um dos maiores escritores do gênero em nossos dias”. Exatamente os meus dias de aliciado por um texto que custava entender como passou a ser subestimado e esquecido. Atuando na censura, foi sua crônica que me botou nas mãos um dos livros ideologicamente mais influentes, o romance de Michael Gold, “Judeus sem dinheiro’. Ao lado do Booker Washington, traduzido por Graciliano Ramos, podia-se descobrir que só não havia riqueza nos Estados Unidos.

Tempos depois encontro na nossa Grafset, convocada para assessorar a editora na publicação de um atlas de Sergipe, uma professora universitária que se abre comigo quando lhe falo no historiador Manuel Bonfim: “Sua terra (Sergipe), como a minha, só perde em estrelato literário para o Maranhão.” Ela não se deu por satisfeita, e entre Bonfim, Silvio Romero, Tobias Barreto e Gilberto Amado, levanta-se eufórica e exaltada: “Há um, da minha paixão, que você não conhece: Genolino Amado, irmão de Gilberto, este muito mais famoso mas não tão amado quanto o cronista dos “Inocentes do Leblon”.

“...que você não conhece” – quanto ela se enganava!

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  1. Mestre:
    Desde quando um diminutivo será entendido, necessariamente, como algo negativo? Se você houvesse escrito “bibliotequinha”, eu teria entendido como um gesto afetuoso, carinhoso.

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