Clichês à parte, passei batido e dou a mão à palmatória: não lembrei que no último 5 de dezembro de 2023 fez dez anos da súbita e precoce partida do professor Jader Nunes de Oliveira, ex-reitor da UFPB, meu amigo pessoal e com quem trabalhei de perto em seu reitorado de dois mandados consecutivos (oito anos). Naquele 6 de dezembro de 2013, ainda abalado, fiz a seguinte anotação em minha caderneta de registros mais relevantes: “05/12/2013: falecimento de Jader, de repente. Grande emoção. Publiquei artigo sobre ele no dia 06/12/2013, no Correio da Paraíba.”.
Esse necessário obituário publicizou minha amizade e minha gratidão ao ilustre morto. Para mim, era um dever moral, antes de tudo, pois dele sempre recebi as melhores atenções, no trabalho e fora dele. E o nosso vínculo não era recente, pois vinha de muito antes de sua ascensão à reitoria, e foi solidamente construído através de meu cunhado Múcio, seu leal companheiro de sempre.
Jader foi democraticamente eleito pela comunidade universitária na sucessão do professor Neroaldo Pontes, de quem fora Pró-Reitor de Administração. Assumiu a reitoria, tal como seu antecessor, em momento difícil da instituição, por conta das restrições orçamentárias e financeiras da época. Os recursos que vinham de Brasília às vezes nem davam para a quitação dos pagamentos de água, energia elétrica e telefone. Por aí já dá para se ter uma ideia das dificuldades. Sem a adequada manutenção predial e de equipamentos, a universidade corria o risco de entrar rapidamente em processo de sucateamento. O reitor vivia viajando para a capital federal, onde era bem relacionado, em busca do que pudesse conseguir de ajuda do Ministério da Educação e outros órgãos. Tempos de muito trabalho, muita ansiedade e não raro de muita frustração.
Ele tinha uma característica toda sua: não gostava de chegar cedo na Reitoria, mas apreciava sair tarde do trabalho. Normalmente, agendava as reuniões de equipe para o final da tarde e aí já sabíamos que iríamos até as oito ou nove da noite, sem apelação. Também não cultivava horário regular para o almoço: era comum sair para almoçar às 14:00 horas, na maior naturalidade. Alguns auxiliares diretos tinham que adaptar o relógio biológico para conseguir acompanhá-lo.
A despeito de sua legitimidade eleitoral e de sua condição de ex-presidente da ADUFPB, a associação dos docentes, Jader sofreu, como Neroaldo, o que se pode chamar de cerrada, contínua e injusta oposição da entidade. Pois todos sabiam das limitações da administração universitária, mas ao invés de reivindicarem e protestarem perante o governo federal, verdadeiro responsável pela penúria vigente, voltavam-se contra o alvo mais fácil e mais próximo: o reitor e sua equipe. Coisas da política, quase sempre irracional – e mesquinha.
Mas Jader fez o melhor, nas circunstâncias, e deixou o cargo reconhecido em sua operosidade e lisura. Entregou ao professor Rômulo Polari, seu sucessor e seu Pró-Reitor de Planejamento, uma UFPB mais saneada e pronta para se beneficiar dos recursos trazidos pelo REUNI, programa governamental de recuperação das instituições federais de ensino superior. Deixando a reitoria, logo aposentou-se, saindo de cena altiva e serenamente.
Até a sua partida, não voltou a exercer cargo público, mesmo ainda estando em pleno vigor e no auge de sua capacidade intelectual. Um verdadeiro desperdício de um valioso e raro patrimônio humano por parte das administrações municipal e estadual do período. Simples cegueira dos governantes da época ou novamente a velha mesquinharia da política? O fato é que a Paraíba voluntariamente se privou dos inestimáveis serviços de um grande e honrado gestor. Por deliberação do Conselho Universitário, foi dado o nome do professor Jader ao imponente Centro Cultural que o reitor Polari pretendeu erguer no terreno em frente à rampa da Reitoria. Essa obra seria totalmente financiada pelos bancos que tinham agência ou posto de atendimento no campus, como uma forma de retribuir à instituição os ganhos auferidos com a clientela universitária. A construção foi iniciada, a vasta estrutura de concreto foi erguida, mas, por razões diversas, não foi concluída até hoje. O monstrengo está lá, à vista de todos, deteriorando-se, como mais um exemplo lamentável de descontinuidade de obra pública, com os prejuízos de praxe. Tenho certeza de que se houvesse esforço por parte dos dirigentes universitários, os deputados e senadores da bancada paraibana não se negariam a direcionar àquela obra recursos de emendas parlamentares suficientes para a sua conclusão. E com isso ganhariam as comunidades da UFPB e da cidade mais um grande espaço de cultura.
Não sei se a UFPB prestou outras homenagens ao seu ex-reitor. Como a Paraíba, ela é muito parcimoniosa no reconhecimento dos seus grandes vultos. Que fazer? Mesmo com atraso, este texto relembra e reverencia o professor Jader Nunes de Oliveira, modestamente suprindo as omissões alheias.