E no meio da noite surgiram desenhos na escuridão. O céu rabiscado em furiosos traços como se fora grafados por uma mão agi...

Céu rabiscado

E no meio da noite surgiram desenhos na escuridão. O céu rabiscado em furiosos traços como se fora grafados por uma mão agitada, acordada de um pesadelo ou que tivesse uma ideia sensacional e necessita urgentemente colocar tudo para fora, registrar no horizonte. A tinta branca traça formas geométricas indecifráveis na superfície delicada das nuvens transportadoras de chuvas. E todo aquele turbilhão
trovao relampago tempestade
Gustavo Outside
penetra a janela, invade o quarto, clareia o sono, um espetáculo teatral descortina o horizonte acompanhado de uma melodiosa sonoridade que pousa depois devido ao distanciamento físico.

É um retorno ao passado, emergido de outros tempos também. Feito um filme reprisado. Da infância, a desconhecida composição tempestuosa monta monstros e erigia muros, desafiando o enigma natural. O clarão impõe mais temor que o estrondo, quando o inverso é a verdade. Raios e trovões no meio da noite silenciosa ainda sem chuva.

Para uma mente mais imaginativa, a noite rabisca no céu árvores, aranhas, esqueleta rostos de uma espécie indistinta, confecciona chuviscos e sustos. Traz à tona medos e divertimentos, torna o breu noturno diferente e avança no interior das mentes, fertiliza pesadelos. É como uma estrada com faróis altos que piscam à distância seguindo de várias direções para uma encruzilhada tocada pela natureza.

trovao relampago tempestade
Josep Castells
E no meio da noite chega a sensação que mesmo com a proximidade do sono tais rabiscos invadem a mente em pseudo descanso. Ou quem sabe a natureza é controlada pelo poder de Xangô, Zeus, Thor, Tupã, Amon-Rá e todas as divindades dominadoras dos raios e trovões. Não temer o fogo elétrico que rabisca o céu é imprudente? Pecado também é não admirá-lo. Há que se reconhecer a beleza em todas as formas.

É preciso afastar a cortina, olhar pela janela, admirar os rabiscos no quadro negro, espaço de contemplação. Deixar a mente agir e, assim, participar daquela construção de imagens de dispersão imediata, em poderosa e efêmera existência. E acompanhar a viagem dos riscos revelando nuvens, horizontes, solitudes noturnas como se fosse a visão da escotilha ilhada pelas vagas errantes da cidade sob o domínio de Morfeu.

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  1. JOSE MARIO ESPINOLA2/4/24 23:45

    Crônica brilhosa e radiante, literalmente, evocando lembranças de medo e fascinio da minha infância!
    Parabens, Clóvis Roberto, excelente cronista e pintor!

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    1. Anônimo2/4/24 23:53

      Obrigado pela leitura e feliz que tenha gostado. Bom compartilhar esses momentos através da descrita e dos rabiscos. 😉

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