Meu caro Milton Marques, Mestre e Confrade. Saudações.
Esta missiva é para transmitir notícias do tamarindo que você plantou no Jardim de Academus da Casa de Coriolano de Medeiros, por ocasião de sua posse como acadêmico.
Na sua ausência, tendo assumido o compromisso de guardião dessa árvore cheia de simbolismo na poesia de Augusto dos Anjos, sinto-me no dever de informar como se encontra o jovem tamarindo.
Mestre, afianço que o filho do centenário tamarindo imortalizado por Augusto e que sobrevive nas terras do antigo Engenho d’Arco cresce sadio, com folhas bem verdes e atraentes. Olhando-o, quase sempre percebemos uma força espiritual emanando dele.
Posso dizer que a pequena árvore será um bonito símbolo para lembrar o grande poeta. O maior poeta de nosso País, estando talvez entre os dez maiores da Língua Portuguesa. O crescimento da árvore possibilita recordar o momento de sua posse na Academia, num gesto que permanecerá na memória de nossa Casa.
Quem sabe, em breve, debaixo desse tamarindo ainda com pequenos galhos, possa ser gerada a homogeneidade da nossa eternidade, e como queria o poeta, “a sua sombra há de ficar aqui”. Olhando-o, percebemos que logo aflora a poesia da alma, abraçando todas as estrelas.
Devo lembrar que a árvore já se destaca entre as demais, pois, desde o primeiro momento do plantio, é bem cuidada pelos colaboradores da Academia, sendo diariamente regada por eles.
Professor, reafirmo meu compromisso de acompanhar o crescimento do seu filho espiritual, enquanto estiver ausente desfrutando dos saudáveis ares de Coimbra. Esse filho que você semeou, cultivou e plantou nos jardins de nossa Academia pertence a todos nós e requer os nossos cuidados.
Na sementinha recolhida do velho tamarindo que deu sombra e inspirou Augusto dos Anjos, a genealogia do grande poeta há de florescer ainda mais perto de nós, para que jamais deixemos que se afaste das mentes e dos corações dos amantes da poesia.
Agradecemos, mais uma vez, pela iniciativa de plantar o tamarindo junto da estátua que fica na parte externa do prédio e do Memorial do Poeta existente na parte interna da Academia. Então, como no poema, a sombra de Augusto ficará para sempre entre nós, seus admiradores.
Na sua desenvoltura cultural, você trouxe para o repouso no chão da Academia a semente da poesia de Augusto. O jardim onde se encontra a árvore é um escabelo entre as nuvens e as velhas casas da Rua Duque de Caxias e do entorno do engenho Pau D’arco.
Nesse genuflexório, o leitor do EU se ajoelha aos pés do Poeta, sem se deslocar até as terras onde ele nasceu para sentir a luz e o sopro da poesia do tamarindo.
Recordo-me do passeio que você fez conosco pelas ruas onde Augusto morou. Como foi importante aquele momento cultural. No seu retorno, vamos repetir o passeio pelo mundo do poeta, tão agradável para todos os que participaram daquele encontro. Agradecemos a afeição literária que nos une, razão da estima pessoal que se aprofunda na admiração e no reconhecimento dos seus ensinamentos imprescindíveis ao banquete da inteligência paraibana.
O tamarindo cresce aos olhos de todos, junto com a lua e as nuvens que passeiam lentamente no alto para observar tudo, como se Augusto, lá de cima, dissesse “como cresce fagueiro este filho”.
Um fraterno abraço. Lembranças à esposa Alcione.