Já na Paraíba a partir de 62, vi muito doutor dizer tauba em lugar de tábua, auga — e não água — , além de preciosidades como estrupo, protistuta, largato ou falcudade. Isso tem nome: Metátese: transposição de fonemas dentro de um vocábulo.
No sertão, em que vivi de 62 a 70, ouvi frequentemente coisas como telça-feira, galfo, mulé lindra, latra di leitche, o di cumê, e tive trabalho pra fazer uma mocinha, numa peça que montei para as freiras, deixar de dizer “mas-si” em lugar de “más”. De repente, um som d'Espanha em plena caatinga: otcho como oito, mutcho como muito. Ou da França, com tanta véia em lugar de velha, teia em lugar de telha. Na montagem de “A Bátalha de OL contra o Gígante FERR”, Dema – que fazia o protagonista – disse, no primeiro ensaio, ao dar ênfase à frase “Rol irá!”:
“Rol irrá!”.
— Não: "Rol irá!"
— Não foi o que eu disse?
Já a expressão “visse”, em vez de “viste” virou forma de carinho. Ô, mas há coisas lindas, no linguajar do povo. Fiquei encantado quando meu pedreiro me mostrou as pedras no muro de uma casa, sugerindo-me botar equivalentes no da minha, ou seja: “tarugos desta expressão”. E quando o minifundiário me contou, na carteira agrícola do BB, em Pombal, que tivera de atravessar o riacho na enchente, com “água batendo aqui, no casamento”!
Jamais me esquecerei de que a primeira coisa que fiz no meu primeiro dia de trabalho na Paraíba, um paulista na carteira agrícola da agência do Banco do Brasil de Patos, foi a chamada do primeiro camponês a ser atendido, no meio de uma multidão deles:
— Severino! — eu disse em voz alta.
Ninguém se apresentou.
— Severino! — repeti.
Ninguém.
Eu disse ao chefe:
— Não está.
E ele:
— Está sim. Quer ver?
E bradou:
— Sévérinu!
— Présente!