O ano de 1975 chegava ao fim com um início de verão muito quente. Após o banho na praia de Tambaú, a turma subiu a Avenida Epitácio Pe...

Passeio de ônibus numa bela noite de domingo

conto onibus mau cheiro
O ano de 1975 chegava ao fim com um início de verão muito quente. Após o banho na praia de Tambaú, a turma subiu a Avenida Epitácio Pessoa até o bairro de Miramar, para desfrutar da piscina do Clube Cabo Branco.

Estavam quase todos os amigos do xadrez: além de Anfrisio estavam os irmãos Rato, Macaca e Jacaré e Pavão, e Amerigo Bonisera. Não faltaram Belo-Jardim, Lulu-Babau e Cara-de Cu (CC).

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Mergulhos deliciosos, entre uma e outra dose de rum Montilla com coca-cola, muitos tira-gostos, como tripa assada e ovo cozido. A difusora tocava o tempo todo o novo LP de Benito de Paula, Brasil Som 75. Assim passaram a tarde, até a hora de ir pra casa.


Pela lotação do ônibus, cedo da noite daquele domingo de verão, prometia-se muito agito nos templos do centro da cidade. Gradativamente, ao longo da Avenida Epitácio Pessoa, a cada parada subiam mais fieis.

As mulheres com as inconfundíveis saias ultralongas e os cabelos penteados em coque, portando as suas bíblias. Os homens quase todos de camisa longa ou paletó branco, com a bíblia debaixo do braço.

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Provavelmente iam para o culto na Primeira Igreja Batista, no inicio da Avenida Getúlio Vargas. Ou a Assembleia de Deus, na Praça 1817. Havia também os católicos, que iam assistir à missa das 7 da noite na Catedral Metropolitana Nossa Senhora das Neves. Aos poucos ocuparam todos os lugares do ônibus e foram lotando o corredor.

Anfrisio e seu amigo Macaca haviam subido na parada do Miramar, o primeiro voltando para casa após um dia exaustivo: manhã de praia, almoço na casa da namorada, e tarde de brincadeiras na beira da piscina do Clube Cabo Branco. Mas ia apenas tomar um banho em casa, trocar de roupas por vestes de domingo e retornar à casa da namoradinha querida em Miramar.

Já Macaca, todo arrumado e cheiroso, ia pegar a sessão das seis e meia no Cine Municipal com a sua nova namorada e, claro, a inevitável irmã dela.

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Quando estavam passando na frente do quartel do 1º Grupamento de Engenharia foi que surgiram os primeiros sintomas, o intestino começou a dar sinais de vida. Imediatamente Anfrísio lembrou-se da buchada do almoço, acompanhada de gnocchi de batatas doces, ovos cozidos de tira-gosto e fartas doses de rum Montilla com coca-cola.

Mistura explosiva, semelhante a trinitrotolueno com nitroglicerina. E o domingo de verão tinha feito um calor de beduíno tirar a roupa! Ou seja: a cena perfeita para uma explosão.

Anfrisio aguentava-se como podia, aquela força vinha das profundezas do seu ser, lá do âmago. Até que, à altura da Secretaria da Receita Federal, não aguentou mais, e a explosão aconteceu! Que alívio, chega ficou suado! Porém ele conseguiu evitar qualquer som. Como estava em pé no início do corredor, no meio de outros passageiros, e as janelas abertas faziam o vento entrar e levar tudo que flutuasse para os fundos do coletivo, passou despercebido dos demais passageiros em torno dele. Por um momento ele acreditou que nada seria notado. O crime perfeito!

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Porém, para a sua surpresa logo começou a gritaria, os protestos daqueles que ocupavam o ônibus do meio para trás. Aqueles que podiam, enfiavam a cabeça para fora da janela. Porém os infelizes que estavam de pé no corredor se desesperavam. E gritavam para o motorista parar, que queriam descer.

Na parada do supermercado Pão de Açúcar desceu um cidadão com ar de aposentado. Foi quando uma voz lá de dentro, alto e bom som, anunciou:

“Vai descendo o cagão!”

Rapaz, num prestou, não! Pra que ele foi dizer isso?! Pois não é que o cidadão queria subir no ônibus novamente?! Pois era um homem de respeito, e não admitia molecagem:

“Cagão é você e a sua mãe! Desça pra apanhar, seu cabra de pêia!”

Foi muito difícil para o motorista controlar a situação. Até que finalmente o ônibus conseguiu sair, chegando até a Praça da Independência, onde Anfrisio desceu aliviado.

Em todos os sentidos!

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