Com o passar do tempo a gente vai se recolhendo, sumindo dos pontos ou lugares onde foram sedimentadas as mais fundas amizades. Onde está o clube dos meus antigos intervalos de redação? Dos meus dedos de prosa com Dr. Celso Mariz, com Rubin Falcão, com Mário Santa Cruz, com Luciano Wanderley, com Rivadávia Pereira Guedes? O meu Cabo Branco erguia-se desse calcário humano. E ficou neles, tão insubstituível quanto a cal das almas em suas paredes.
Esvaziada a antiga sede, um grupo de saudosistas liderados por Quinca Brito, cinco ou seis anos atrás, tentou despertar meu interesse em voltar a esquentar as cadeiras da casa improvisada de clube no segundo quarteirão da Duque de Caxias.
“Por que não aparece? - estou lá toda manhã com alguns remanescentes do velho clube”. Levou tempo a se convencer de que terminaria contando apenas com a própria companhia.
Onde ainda me vinha a ilusão do antigo cenário e de sua convivência era através da janela que a coluna de Ivonaldo Correia abria enquanto ele atuou como cronista social. De vez em quando aparecia uma amizade, uma presença atenciosa. Quase sempre uma D. Stella Wanderley, suscitando a lembrança do grande amigo Luck; aqui e ali Cláudio Leite com a sua Célia. Tantos e tantos que se debruçavam na janela sempre viva e saudável do meu velho companheiro!
Tudo me vem pela homenagem que Abelardo Jurema Filho lhe prestou há alguns dias. E o melhor dela foi saber descrever por dentro e por fora a especial personalidade que constituía Ivonaldo. Um homem e, sobretudo, um profissional isento na lavratura da sua escrita. De uma seriedade que não comprometia a simpatia.
Era repórter esportivo de O Norte na minha reentré de 1966, sob a direção de Aluisio Moura. Vagara a coluna social. E quem convocar para entrar no páreo com Heitor Falcão? Pensou-se em Wills, em um ou outro nome que não me ocorre agora, decorrido mais de meio século.
E deu no que deu. Sóbrio de expansões, medido em seus elogios, fez-se acreditar num gênero de jornalismo que as matrizes do Rio, exceção a nomes como o de Zózimo, não davam o melhor exemplo.
Meu confrade Abelardo não sabe a quantas me levou sua lembrança. Uma delas: no final dos anos 1950, patrocinados pelo governo de Pedro Gondim, saímos daqui com Carlos Romero, Wills, Brayner e Ivonaldo para representar a Paraíba num dos primeiros congressos de jornalismo em Brasília. Sobrara pra nós a pior hospedagem. E nos veio a ideia de levar a queixa ao ministro Abelardo Jurema, que nos recebeu tão logo fomos anunciados. Onde vocês estão? – perguntou o ministro. “Estamos na pior pocilga, nem água de quartinha tem nos quartos”- antecipou-se o galego Ivonaldo, antes do diplomata Carlos Romero e os de boca solta como eu e Wills. O nosso ministro levantou-se, chamou o secretário Jhanson Guedes e mandou encaminhar-nos ao Hotel Nacional.
Não podíamos ter melhor representante. Nem eu, nestes dias de trevas, melhor clarão.