Quando leio poema de Ariano Suassuna sobre seu pai, o ex-presidente da Paraíba João Suassuna, morto em outubro de 1930, meu pensamento se volta para este homem que soube representar o Sertão, porque, detentor de fartura cultural e sinceridade no trato com as pessoas, pautou sua vida pelo bem servir, a começar pelos caboclos da brenhas inóspitas.
Por meio de Ariano Suassuna passei a admirar seu pai e na convivência com Dorgival Terceiro Neto, Natércia Suassuna e Manuelito Vilar, eu construí caminhos para penetrar na história deste homem que foi assassinado como o passarinho no dia 9 de outubro de 1930, no Rio de Janeiro. A decisão do meu bisavô materno, coronel João Mendes, de seguir seu legado político em Serraria, também contribuiu para a minha aproximação.
Filho de uma terra áspera, integrante de uma civilização de homens que compunham elenco de pessoas fascinadas pelo Sertão, ele adquiriu pujança cultural e originalidade no viver com sua gente, por isso, no seu tempo, foi o principal representante do povo sertanejo.
Gostava de viver no Sertão, ali aprendeu a respeitar a cultura do seu povo, a defender o trabalho como fonte de riqueza. Para ele, o Sertão era lugar mítico, e da região colheu gotas de sabedoria.
O Sertão onde João Suassuna nasceu carregava marcas do tempo da “aristocracia do couro”, quando senhores da terra e vaqueiros formavam uma sociedade livre, estabilizada com sua economia rudimentar, numa região somente entendida com suscetibilidade. Sempre houve, no Sertão, um olhar para padre Ibiapina e padre Cícero, para o beato Antônio Conselheiro e para o coronel José Pereira, em Princesa, destes tirando lições.
João Suassuna nunca se mostrou um político que precisava de artimanhas para o sucesso, mas “do arrimo, do aplauso e da solidariedade do povo, que seria a sagração e indiscutível soberania” para se sentir gratificado.
Agora, tantos anos depois de sua passagem, chegou o tempo de reverenciar este homem acostumado a andanças pela terra encrespada, poeirenta e pedregosa do Sertão, lugar sagrado para ele, reino encantado e misterioso, que descreveu com relevante sabedoria. Por isso, para abrir o apetite do leitor reproduzo pedaços de textos produzidos por ele, ao descrever sua terra:
“O Sertão, a terra luminosa do sol! O amor invencível a esta terra de dor, apego do líquen à rocha do sofrimento, é a fatalidade inelutável do destino de seus filhos. De mim, confesso a nostalgia inconsolável que me mata, quando longe desta incomparável gleba fascinante, extremamente boa e cruamente má.
Nem posso sofrer que se maldiga do seu sol, desse sol que é a coroa radiante do nosso martírio, mas que também envolve, nas bolandeiras irisadas dos seus halos, as nossas horas de abastança e alegria”.
Não quero repetir aqui o que ele fez e pronunciou durante a trajetória política e nem muito menos como pai de família, porque, na tradição verdadeira, “não cultuamos as cinzas dos antepassados, mas sim a chama imortal que os animava”.
No silêncio do túmulo onde se encontra na terra sagrada de Taperoá, João Suassuna continua aguardando que lhe seja feita justiça, porque ainda em vida o levaram ao silêncio sepulcral em torno de sua obra de político e intelectual.
Sempre presto minha homenagem a ele, que ao seu modo, angariou a simpatia de muitos, daqui e de outros estados.
Um dia sua história será resgatada. Então, seremos herdeiros dos sonhos do bravo filho da terra luminosa.