Gira flor
retorna ao berço das imagens,
Mundo em moldura de sonhos
nascido no infinito dos olhos
a cada nascente e poente
retorna ao berço do imenso
e da quase morte.
Gira flor
que no sumidouro dos dias
restou a vida retinta
pela claridade
que ensinou do silêncio
na espuma das nuvens.
Deixa retornar o pardal
de asa costurada
na máquina Singer.
Recorda a moça nua
a rodar o bambolê,
(e se masturba)
os belos seios da Avenida República
(e se masturba)
o casal da 13 de Maio
(e se masturba).
Espreita a cidade que cresce
erguendo janelas para você e o céu.
Vigia o pai que não chega,
o vendedor com seus pintos de granja, as prostitutas,
as carroças com sacas de café
e as mulas repicando as ferraduras na Presidente Pedreira,
os carregadores negros a te apresentar Portinari.
Gira flor
nessa elipse perfeita
dos urubus e seu voo mágico
de asas paradas.
Gira flor
pois o que nutre
esse voo inútil
– a paz do retorno ao útero
das pastilhas amarelas
do edifício Santa Rosa.
Gira flor
essas hélices de pétalas,
relembra as tempestades
mutilando os sonhos,
os faróis ensaiando sombras,
e recorda que anoitecer
é acatar o sem-sentido.
Gira flor,
percebe as águas
que depuram as perdas
e apagaram as chamas
que mataram o menino no Morro do Moscoso.
Gira flor
o voo possível
e resgata a beleza
no interminável da memória.
março 10, 2024
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