Gira flor retorna ao berço das imagens, Mundo em moldura de sonhos nascido no infinito dos olhos a cada nascente e p...

Gira flor

poeisa capixaba jorge elias neto
 
 
 
Gira flor retorna ao berço das imagens, Mundo em moldura de sonhos nascido no infinito dos olhos a cada nascente e poente retorna ao berço do imenso e da quase morte. Gira flor que no sumidouro dos dias restou a vida retinta pela claridade que ensinou do silêncio na espuma das nuvens. Deixa retornar o pardal de asa costurada na máquina Singer. Recorda a moça nua a rodar o bambolê, (e se masturba) os belos seios da Avenida República (e se masturba) o casal da 13 de Maio (e se masturba). Espreita a cidade que cresce erguendo janelas para você e o céu. Vigia o pai que não chega, o vendedor com seus pintos de granja, as prostitutas, as carroças com sacas de café e as mulas repicando as ferraduras na Presidente Pedreira, os carregadores negros a te apresentar Portinari. Gira flor nessa elipse perfeita dos urubus e seu voo mágico de asas paradas. Gira flor pois o que nutre esse voo inútil – a paz do retorno ao útero das pastilhas amarelas do edifício Santa Rosa. Gira flor essas hélices de pétalas, relembra as tempestades mutilando os sonhos, os faróis ensaiando sombras, e recorda que anoitecer é acatar o sem-sentido. Gira flor, percebe as águas que depuram as perdas e apagaram as chamas que mataram o menino no Morro do Moscoso. Gira flor o voo possível e resgata a beleza no interminável da memória.

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