Chego aos setenta e cinco,
não sei se vou aos oitenta.
Muita coisa que hoje sinto
a minha fé não sustenta...
Com olhos enxutos e alma leve, completo hoje 75 anos de idade. Constato, numa resignação sem conflito, ter levado uma vida pacata e banal, quase toda na minha querida aldeia, o que talvez me tenha trazido até aqui num passo o mais tranquilo possível.
Tranquilo, pois estou dormindo bem e nunca recorri aos maus hábitos ou à chamada “química externa” para suportar as dores do mundo e o inferno dos outros.
No mais, tenho deixado, há bastante tempo, que os próprios fatos dialoguem (ou até briguem) entre si. O futuro é dos mais jovens. Biologicamente, meu tempo de vida é curto e meu futuro já está traçado. Sigo em paz.
Hoje cedo, me perguntaram na caminhada: “Como é chegar aos 75 anos?!” Repeti o saudoso João Ubaldo Ribeiro: "Melhor do que não chegar..."
Ilustração principal: charge dos anos 1980, já bastante desgastada pela ação do tempo, na qual não estavam legíveis sequer data e assinatura do autor. A restauração é um presente do amigo Martinho Sampaio, meu velho companheiro dos tempos de A União.