A anomia social é a desintegração das normas sociais que pode ser o princípio de um fato social desprovido de dignidade humana. Por fato social observa-se a sua função de generalidade, coercitividade e exterioridade ao cidadão. O conceito de desordem (anomia) foi apresentado pelo sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês David Émile Durkheim (1858 - 1917) para descrever as tensões sociais destrutivas da sociedade moderna, racionalista e individualista, podendo ser empregado em diferentes áreas do conhecimento com o objetivo de analisar
a ineficiência o poder regulador que as normas sociais e instituições de controle teriam sobre os relacionamentos ente os indivíduos e instituições, impedindo a harmonia da sociedade, enfraquecendo suas autopreservações.
Anomia social surge quando as normas de conduta estabelecidas como regras pela sociedade para se alcançar metas sociais não estão devidamente integradas nestas. A anomia ocorre quando os indivíduos se sentem incitados a violar as normas para poder alcançar as metas. Poderá surgir quando a cultura der mais importância aos valores que definem as metas do que às normas sociais ou regras para se atingirem valores morais de modo legítimo. Desse modo, quando os grupos sociais aceitam aquele que atinge as metas sociais, mesmo matando ou por outros meios ilícitos, está-se a fomentar o estado de anomia na sociedade. Anomia revela os desvios às normas sociais por parte de certos grupos que agem de forma anormal. A conduta desviada dos valores da sociedade é mais norma do que exceção nos países que apresentam o maior índice de ódio entre os cidadãos e desrespeito à democracia. Nessas sociedades, há mais riscos de gerar a anomia social. Por exemplo: do não cumprimento das leis democráticas; do aumento da corrupção; do crescimento da demência individual e social gerada por uma alienação religiosa. Outra causalidade anômica é quando se refere as situações em que as instituições sociais como as polícias, os tribunais, as prisões, as escolas, as religiões e as instituições de Estado falhem nos objetivos para que se faça cumprir o bem-estar social. Quanto maior for a incapacidade das instituições para fazer com que se cumpram as leis que preservam a dignidade humana... aumenta o grau de desordem social. Quando não se consegue cumprir a lei, não há integração possível entre as metas e as normas sociais.
O desaparecimento das referências sociais se intensificou conforme a sociedade foi se tornando individualista, priorizando o poder econômico sobre o poder político que interferiu nos relacionamentos humanos, gerando a era da incerteza, a qual ocasionou grandes transformações dissociativas (destrutivas) no modo de vida e pensamento dos cidadãos. A perda do respeito e da confiabilidade nas instituições e nas tradições culturais, enfraquecidas com o crescimento da brutalidade da globalização para com a destruição das empresas locais, são algumas das consequências destas transformações sociais.
Em suas obras, Durkheim diz que a anomia social permanece ativa temporariamente, apenas durante o período de transação entre as transformações sociais. A partir desse cenário anômico, a sensação de vazio, ansiedade e frustração se configura entre os cidadãos, que buscam por dignidade, que satisfaçam a harmonia social e novos sentidos de pertencimento para as suas vidas. O pensador ainda afirma que o enfraquecimento dos vínculos sociais e de insatisfação com a vida pode gerar fenômenos trágicos, como o suicídio. O suicídio anômico é motivado pelo sentimento de instabilidade da sociedade, na qual a perda pelo sentido de vida não se sente protegido por um direcionamento que aponte o que é certo e errado ou do que é verdadeiro ou falso.
A heteronomia é uma atitude para evitar a anomia social. Significa dependência, submissão e obediência. É um sistema de ética segundo o qual as normas de condutas surgem de fora do indivíduo. A palavra é formada do radical grego “hetero” que significa “diferente”, e “nomos” que significa “lei”, portanto, é a aceitação de normas externas que não são geradas pelo cidadão, mas que as reconhece como válidas para orientar a própria consciência que vai discernir o valor moral dos seus atos. significa dependência, submissão, obediência. É um sistema de ética segundo o qual as normas de conduta provêm de fora. Por exemplo: submeter-se aos valores morais e as tradições religiosas, as quais são seguidas de modo passivo, sem espaço para que a pessoa interfira na validade de tais normas. Também é o estado psíquico de conformismo por temor à reprovação da sociedade ou do deus da própria Religião.
Heteronomia é o oposto de autonomia, formada do radical grego “auto” que significa “por si mesmo”, que é a capacidade de se reger por si, pelo qual o cidadão escolhe as suas leis para conduzir a própria conduta. A autonomia não nega sua influência externa, mas recoloca no cidadão a habilidade de refletir sobre as limitações que lhe são impostas e que observadas lhe dão a direção a seguir. A autonomia é menos passiva às decisões externas, abrindo espaço para que haja a reflexão particular de cada pessoa, ou seja, é a liberdade que cada indivíduo possui de optar por diferentes escolhas e questionar as regras que lhe são impostas.
A Sociologia de Durkheim é objetiva e científica. Ele insere a ciência da estatística para auxiliar suas teses e apresenta quatro princípios para sua teoria: a sociologia é uma ciência que não depende das outras ciências; os fenômenos sociais são os formadores da realidade social; nos fenômenos sociais também estão as causas dos fatos sociais; os fatos sociais formam uma realidade única e se encontram exteriorizados dos indivíduos. Há o conceito de grande importância em seu pensamento que é o de “consciência coletiva”. Trata-se de uma “força social” exercida sobre os indivíduos coagindo-os a pensar e agir de acordo com as normas sociais. Essa consciência é o resultado de pequenas contribuições individuais, gerando um conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria.