No calendário de Rômulo, o primeiro rei de Roma e seu fundador, o ano começava em março e tinha dez meses, cujos nomes primitivos eram Martius (em homenagem ao deus da guerra, Marte), Aprilis (nome relacionado a Apros ou Afros, designativo de Afrodite, nome grego da deusa Vênus, a quem abril era dedicado); Majus (em homenagem à deusa Maia, uma das Atlântidas, amada de Júpiter e mãe de Mercúrio), Junius (em homenagem à deusa Juno, equivalente à deusa Hera dos gregos), Quintilis, Sextilis, September, October, November e December. A relação de aprilis com
aperire (abrir) surgiu posteriormente, na vigência do calendário de Numa Pompílio, por ser abril o mês da primavera, em que “todas as coisas se abrem”.
Numa Pompílio (circa 715-circa 672 a.C.), sucessor de Rômulo, querendo igualar a contagem do tempo romano à dos gregos e fenícios, reformou o calendário de Rômulo, instituindo os meses de Januarius (em homenagem ao deus Janus, protetor dos lares) e Februarius, do latim februus, adjetivo de primeira classe que significa “o que purifica, purificador”. No mês de fevereiro, realizavam-se cerimônias de purificação, como sacrifícios expiatórios e os ritos de purificação chamados “lupercálias”. As lupercálias eram festas em homenagem a Pã, realizadas no dia 15 de fevereiro, em que jovens saíam nus da gruta Lupercália flagelando os transeuntes com um cinto de pele de cabra chamado também lupercal, considerado capaz de eliminar a esterilidade e provocar partos felizes.
Os meses Quintilis e Sextilis foram rebatizados com os nomes de julho e agosto, em homenagem aos dois primeiros dos doze césares: Julius (Júlio César) e Augustus. Para que julho e agosto tivessem o mesmo número de dias, subtraíram-se dois dias do mês de fevereiro.
O calendário romano tinha três datas com nome próprio: Kalendas (o primeiro dia de cada mês), Nonas (o dia 5 de todos os meses, exceto março, maio, julho e outubro, em que Nonas designava o dia 7) e Idus (o dia 15 para aqueles quatro meses e o dia 13 para os outros). O nome Kalendas se origina do verbo calare,“chamar”, “anunciar” porque era o dia em que se anunciavam as Nonas.
Em lugar de numerar os dias em sequência crescente, como fazemos, os romanos numeravam os dias retroativamente, usando as palavras Kalendas, Nonas e Idus, como pontos de referência. Assim, o dia 3 de abril era chamado, em latim, “o terceiro dia antes das Nonas de abril (“ante diem tertium Nonas Apriles”); o dia 9 é o quinto antes dos Idos de abril; o dia 26 de abril era o sexto dia das Kalendas de maio. A expressão “desde 3 de junho até 31 de agosto” se dizia em latim: “ante diem III Nonas Junias usque ad pridie Kalendas Septembres”, isto é, “ o terceiro dia antes das Nonas de junho até o primeiro das Kalendas de setembro”. O dia primeiro de março era chamado Kalendae Martiae; o dia 2 de março era chamado “ante diem sextum Nonas Martias” ou “sextum diem ante Nonas Martias”. O dia 10 de março é o sexto dia antes do dia 15 (Idos de março), que se dizia, em latim, “ante diem sextum Idus Martias” ou “die sexto ante Idus Martias” ou simplesmente “sexto Idus Martias”. Dizia-se, para o dia 21 de setembro: “ante diem decimum primum Kalendas Octobres”. Assim, os dias eram sempre contados para trás, levando-se em conta os Idos, as Nonas e as Kalendas.
Em 45 a.C, Julio César, após ter consultado, segundo Plínio, o Velho, o astrônomo Sosígenes de Alexandria, reformou o calendário de Numa Pompilio, dando ao ano a duração de 365 dias e 6 horas. No fim de quatro anos, essas seis horas completavam um dia a mais. No ano bissexto, nós acrescentamos esse dia a mais ao último dia do mês de fevereiro, mas, no calendário romano, esse dia a mais era acrescentado ao sexto dia antes do dia primeiro de março (bis sextum ante calendas Martias) isto é, havia dois sextus dies antes das calendas de março, daí o nome “ano bissexto”.
Na reforma juliana havia um erro de 11 minutos e 12 segundos, o que, desde 45 a.C. até 1582, correspondia a uma diferença de dez dias. O Papa Gregório XIII, nesse ano de 1582, determinou que o dia 5 de outubro passaria a ser o dia 15 de outubro. O dia 21 de março correspondia ao fim do signo de peixes. A confusão da reforma gregoriana de 10 dias fez crer que o dia primeiro de abril era ainda de peixes, isto é, o signo pularia dez dias para terminar no dia primeiro de abril. Em francês, a expressão poissons d'avril (“peixes de abril”), por causa desse engano, passou a designar primeiro de abril como o dia da mentira.
Os números dos anos bissextos são, portanto, aqueles divisíveis por 4. Curiosamente, hoje a diferença entre o calendário juliano e gregoriano é de treze dias.