A insuficiência da sombra

Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria, de coisas que o faziam bem. O azul foi se tornando cinza e algumas pessoas outrora queridas perderam o encanto e a sutileza em ser grácil, chegando a se tornar simplórias. Aquilo que o tocava e o promovia, foi se apequenando.

Adrian Campfield

A princípio pensou ser passageiro, como um desconforto útil, quem sabe um sinal, ou uma promessa cristã purificadora de crescimento. Mas os dias, as semanas e os meses foram se alongando e este descompasso entre o passado e o presente parecia negar a presunção de um futuro restaurador.

Procurou razões, observou-se nos detalhes com maior frequência e tentou mudanças racionais flutuando entre o vazio e uma mágoa imprecisa consigo mesmo.

Procurou ajuda, sentia pressa em resultados, sem obtê-los. O passado insistia em não voltar, como se lavasse as mãos no presente, tal qual a sombra da copa de uma árvore que se estreitava indiferente a sua ação protetora.

A luz o incomodava com sua enorme carga de realidade. Resignou-se, foi vencido. No domingo, levantou-se cedo, fez a barba, buscou um outro rosto e permaneceu em jejum, não sentia fome. Vestiu-se bem, girou o corpo por duas vezes na sala, registrou com detalhes o percebido, abriu a porta que o levava ao jardim e desprovido de esperança e com as mãos vazias se foi.

Mabel Amber

Não acreditava mais em sua própria importância, tornara-se invisível. Levantou simbolicamente a cabeça, pois não mais havia o antigo e necessário disfarce da mentira, e, olhando adiante, o caminho lhe pareceu irregular com calçadas mal traçadas.

Agora sim, sem dúvidas, seguiu sem nem tentar olhar para trás.

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