Um sino badala uma hora fechada na torre da Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, chamando os fieis à missa. As batidas soam como uma memória longínqua que retorna a intervalos simétricos do tempo. Ao redor, os carros seguem fluindo pelas ruas próximas, descem pela Rua General Osório ou por laterais até sumir. Nas calçadas, um ou outro passante aperta o passo em busca das ilhas-sombras das árvores e fachadas dos prédios. O dia pela metade tem um Sol por testemunha de tudo o que acontece e até passa despercebido.
O calor faz os pássaros aquietarem-se um pouco, um intervalo talvez para uma sesta. O espreguiçamento é generalizado, mas nem todos podem parar. Nas praças, uns disputam no naco de sombra que porventura atinja um banco, enquanto outros passam silenciosamente com as mentes praguejando com o calor. E perdem a chance de apreciar a beleza plantada pelas décadas de história em fachadas do casario, nas igrejas majestosas, ou no horizonte de onde a cidade surgiu onde há uma curva do encontro de dois rios.
Segue a cidade rumo a outras paragens e deixa para trás o que já foi mais importante. Antes, a beira-mar não era tanto encanto e a proximidade do rio é que fazia sentido. E foi-se ficando para trás o que lhe era nobre. Preservado uns e outros meio que pré- destruídos, ambos guardam narrativas. Do avanço rumo ao Atlântico para um mergulho em novos tempos foi-se criando novos destino.
Um palacete revela ângulos novos de coisas antigas cujo revisitar o reaviva. Por uma varanda ou uma janela tantos contos. Vista da rua, do muro, do encanto. E quase dá para ver passando o amolador de facas, o vendedor de enciclopédias de porta em porta, em outras vias, se via o bonde serpentear sobre duas linhas de ferro. Um réis reinava à moda antiga.
Mas há novas modernidades que em décadas envelhecerão. Já não se vê os games a ficha de uma loja, fecharam-se as telas dos cinemas com tecnologia estéreo. Do muito antigamente, apagaram-se os lampiões a gás da posteação que queimava durante as noites e chegaram as lâmpadas da luz amarela e a branca. E as pessoas passam....
Para trás da cidade a história se mistura em séculos passados e ainda presentes, em tempos que se sobrepõem. Velhos comércios persistentes na Rua da República, na Aristides Lobo, caminhos que se intercalam pela Ladeira da Borborema e a de São Francisco, remansos da Praça Pedro Américo e a Dom Ulrico e a frenética Duque de Caxias, que já foi Rua Direita, com vai e vem de pessoas quase em constantes abalroamentos pelas lojas, agências bancárias e outras aleatoriedades.
Um sino voltar a tocar... o Sol já segue para o adormecimento à espera de um novo dia. O olho bate no visor do relógio, confere o tempo inabalável e prossegue o passo. A história amontoa mais um momento pela cidade.