Ouça o texto, declamado pela autora
Um dia qualquer de outubro. Começo pelo fim. Eu sei que não virás encontrar-me de novo onde mais quero. Tão perto, tão perto, que eu te sinta colado ao meu destino.
Onde rezo e respiro não é mais teu lugar, tampouco onde me escondo. Porque me escondo sim, para reler vezes sem conta os rabiscos que te escrevo perdida em brumas no escuro das palavras, sem pensar no que digo, quase em transe, deixando me levar por elas, que em vão querem dizer-te o que já sabes muito melhor que eu e há muito tempo.
Jon Eric Marababol
Tínhamos quase o mesmo olhar sobre o mundo. Sorríamos contagiados pelas mesmas emoções. Tudo nos inspirava cumplicidade presente. Se sofrias, eu sofria contigo e te consolava. Se eu não podia falar, me emprestavas tua voz.
Vivíamos embriagados pelo vinho do sentimento. Um contínuo êxtase que anulava o tempo, aquecidos nas labaredas de um sonho, dentro de uma bolha de eternidade feliz.
De repente, sem o mais leve aviso, os pincéis do destino deixaram na tela perfeita um imenso borrão. Entendo que a distância tem suas próprias regras, sobretudo essas para mim desconhecidas.
Laura Adai
Então, eu sei que entenderás mais ainda a natureza do amor. Que se dá e se exprime na fulguração de instantes irreprimíveis. Entre o inesperado e o fatal, descobrirás que, mesmo estando longe, estás tão perto que quase te posso tocar. E sinto ainda, de maneira inexplicável, profundamente agradecida, meu tesouro, meu talismã, dádiva para sempre em mim.